TROUXE o amor sua cauda de dores,
seu longo raio estático de espinhos,
e fechamos os olhos porque nada,
para que nenhuma ferida nos separe.
Não é culpa de teus olhos este pranto:
tuas mãos não cravaram esta espada:
não buscaram teus pés este caminho:
chegou a teu coração o mel sombrio.
Quando o amor como uma imensa onda
nos estrelou contra a pedra dura,
nos amassou com uma só farinha,
caiu a dor sobre outro doce rosto
e assim na luz da estação aberta
se consagrou a primavera ferida.
O soneto acima citado é do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973). Neruda foi sem dúvida uma das vozes mais altas da poesia mundial. Lendo esta e outras poesias, me vi meditando sobre o outro lado do amor. Me parece que a tristeza é um ingrediente necessário na produção dos contos do coração.
A fantasia do amor alegre dá lugar a dores agudas na alma dos amantes perdidos. Para tristeza ou alegria ( pelo menos dos poetas ), o amor não caminha sozinho. Sempre anda acompanhado. A tristeza é o maior companheiro do amor. Um amor ferido é frio. Schopenhauer diz o seguinte: ¨Um amante sem esperança pode comparar de forma epigramática sua beldade cruel ao espelho côncavo, ou seja, àquilo que, como ele, incedeia e consome, mas com tudo isso permanece frio¨
O amor quando ferido, costuma sangrar pelos olhos; sangue incolor e com sabor do Mar, simbolizando a infinita dor. Rubém Alves nos lembra que ¨amor feliz não vira literatura ou arte. O amor comovente é o amor ferido. (citando Otávio Paz): 'coisas e palavras sangram pela mesma ferida.' Mas amor feliz não é ferida. Como poderiam, então, dele sangrar palavras? O amor feliz não é pra ser cantado. É pra ser gozado. O amor feliz não fala: ele faz¨.
Amor e morte foram eternizados nas palavras de Drummond:
O amor é primo da morte, e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.
Até na Bíblia encontramos versos sobre amor e morte:
O amor é tão poderoso como a morte;
e a paixão é tão forte como a sepultura.
O amor e a paixão explodem em chamas e queimam
como um fogo furioso. ( Ct 8.6)
Todo ser humano, de uma forma ou de outra, já provou da amargura quando se perde o objeto amado. Resta a estes, apenas a saudade. ¨por que tenho saudade de você, no retrato, ainda que o mais recente?¨ ( Cassiano Ricardo). O interessante é que nós o queremos, mesmo ao risco de sermos feridos. ¨A senda do amor tem canteiros com roseiras e abrolhos. Os que se atrevem a trilhá-la precisam saber de antemão que podem ser premiados com alegria, mas se arriscam a amargar profunda tristeza. Ao contrário do que prometem os folhetins e dramalhões baratos, amar requer coragem.¨ ( Ricardo Gondim).
Todos nós experimentaremos nosso quinhão de angústia ao passarmos pela vida. O amor seria maravilhoso se não viesse acompanhado: se não ficasse depois que partisse. ¨Por muito tempo achei que ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não o lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim...¨ (Drummond).
Quem realmente ama não quer ser curado da saudade, pois se assim for, é por que já esqueceu. E o amor quer permanecer na alma e nas coisas do ser amado.
Eu prefiro sofrer as dores que o amor carrega que nunca amar.
O amor é a coisa mais alegre.
O amor é a coisa mais alegre.
O amor é a coisa mais triste.
O amor é a coisa que eu mais quero...
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