domingo, 31 de julho de 2011

A Rosa de Hiroshima



Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada


Uma tragédia 


O documento a seguir é um depoimento de um sobrevivente da tragédia de Hiroshima. Em 1945, Hiroshima era a sétima cidade do Japão, um porto de 344 mil habitantes civis e 150 mil soldados. Ela nunca tinha sido bombardeada, pois tendo sido escolhida como alvo da bomba atômica desde setembro de 1944, deveria permanecer indene até sua hora final, para ser possível a avaliação da eficácia da nova bomba. Às 8h 15 min 43s do dia 6 de agosto de 1945 o céu de Hiroshima deixou de ser azul e ganhou uma coloração heterogênea: branco, violeta, púrpura, rosa e muitas outras. Milhares de pessoas simplesmente evaporaram, devido ao calor expelido (55 milhões de graus celsius) e, apenas dois segundos depois, outros milhares morriam esmagados pelos escombros. Segundo fontes japonesas, nesses dois segundos morreram 240 mil pessoas, enquanto que fontes americanas informam terem sido 90 mil. Dois dias depois da explosão, os soldados soviéticos invadiram a Manchúria. A 9 de agosto, foi lançada uma outra bomba atômica sobre o Japão, agora uma bomba de plutônio, que atingiu Nagasaqui e matou 40 mil pessoas a mais. A rendição japonesa veio a 14 de agosto. O número de sobreviventes que vive no Brasil e em outros lugares é incerto e os poucos existentes ocutam a sua condição, por temer que o passado seja uma barreira no relacionamento com outras pessoas. Em 1975, o feirante Shinji Mukai, na época com 45 anos, residente em São Paulo, deu o seguinte depoimento:


Eu tinha 15 anos quando a bomba caiu. Trabalhava numa fábrica de espoletas e bombas navais, a três quilômetros do centro de Hiroshima - no início da guerra eu era estudante, mas, quando a situação no Japão se agravou, em 1944, todos os estudantes passaram a trabalhar. Em casa so moravam meus pais, eu e meu irmão mais velho, Shoji, que na época tinha 18 anos. Os outros quatro, menores de 14 anos, ficava num sítio fora da cidade, onde só permanecia quem tinha de trabalhar.


No dia 6 de agosto de 1945, eu e Shoji saímos para trabalhar, por volta das 7h - ele nos escritórios dos estaleiros Mitsubishi, a 6 quilômetros do centro; eu, na fábrica operando uma espécie de laminadora. Lembro-me da hora do estouro. Estava tudo tranquilo, como todos os dias. De repente, ouvi um barulho grande, que não sabia se era de bomba ou da fábrica desabando. Lembro-me de fui arremessado a vários metros, mas só percebi isso ao acordar, tempos depois. Só tive forças para gritar. Um pouco mais tarde, quatro trabalhadores que estavam fora da fábrica na hora da explosão me encontraram e me arrastaram para fora. Estava com três costelas quebradas. Minha roupa estava coberta de sangue - é que a máquina em que trabalhava tinha tombado sobre meu companheiro, esmagando-o. O sangue era dele.


Quando sai dos escombros, pensei que tinha morrido. Não conseguia entender nada, a fumaça cobria tudo e havia um cheiro forte que nunca tinha sentido. O centro da cidade era uma imensa fogueira. Ainda pensei em meus pais, mas logo entendi que nunca mais os encontraria. Meus companheiros queriam fugir, mas ninguém sabia em que direção, por causa da fumaça. Então alguém se lembrou dos trilhos do bonde. Seguindo por eles, uns quatro ou cinco quilômetros, a gente saía num campo de treinamento militar, próximo do mar, onde havia também o hospital militar.


Fomos seguindo os trilhos. Já estávamos quase chegando quando uma chuva preta começou a cair. Parecia pólvora de granada molhada, com um cheiro muito forte. Quando chegamos ao campo, havia mais de cinco mil pessoas feridas espalhadas, muitas quase mortas. Soube depois que, dos 2 mil operários da fábrica onde trabalhava, mais de 1700 morreram na hora da explosão.




Depoimento de Shinji Mukai
13 de agosto de 1975

Doutrina Religiosa

¨A essência de qualquer doutrina religiosa não está no desejo de uma expressão simbólica das forças da natureza, nem no terror que suas forças inspiram, nem num desejo de maravilhas, nem nas forças exteriores com as quais se manifesta, como creem os cientistas. A essência da religião está na faculdade que têm os homens de profetizar e indicar o caminho que deve seguir a humanidade, numa direção diferente da seguida no passado e da qual resulta uma ação absolutamente diferente da humanidade¨

                               Liev Tostói