sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Queria

Queria que alguma coisa fosse dita,
que este silêncio gritante fosse quebrado, que o som criasse o universo, o mundo, a vida, o paraíso e as pessoas...


Queria que cada momento fosse eternamente bom, que os amigos não fossem embora... Que não houvesse casas particulares e o mundo fosse nosso lar.
Queria que Deus não fosse selvagem assim como ele não é.


E a Terra fosse nosso encanto
E o Mar não causasse medo
E as pessoas fossem humanas
simplesmente como deveriam ser...


Se eu te disser que a solidão tem peso e pode ser medida, me acreditarias? Mas tem! pesa o meu coração e de altura alcança os céus.


Quem fez isso comigo?
O tempo fez isso comigo: me tirou a comida da boca antes que eu pudesse me satisfazer; me deu apenas um gole de água quando minha sede era de beber o Mar.


O tempo me deixou querendo.
                             ERIVAN

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Por uma outra escatologia

A escatologia bíblica deve obrigatoriamente estar pautada na revelação divina; vale lembrar que essa revelação não tem a intenção de ser absolutamente clara e absolutamente definitiva. Caso a escatologia penda para este lado, deveria, assim, ser encarada como determinista e uma vez estando neste determinismo aceita-se, por definição, a teoria calvinista/predestinação, ou seja: tudo já está pronto. Agora é só uma questão de tempo. - Isso seria, na minha concepção, um "blefe teológico" pois se escatologia  trata das coisas futuras, como sistematizar objetivamente o que ainda não aconteceu? Mesmo que se recorra à revelação isso ainda seria incoerente. Incoerente com a liberdade humana e com o amor divino: amor só é compatível com liberdade. A escatologia estudada não é fruto da revelação divina (esta é uma experiência só perceptível por meio da fé), mas é sim filha do fundamentalismo. Essa escatologia (fundamentalista) deve ser rejeitada pois seu discurso é cristalizante, sólido e tautológico (não há como tratar do subjetivo concretamente/solidamente). Aqueles que abraçam ou abraçaram essa escatologia, caíram e caem constantemente em erro de cunho especulativo. Só para citar alguns exemplos: chamam qualquer um de anti-cristo, vêem o sinal da besta em qualquer numeração, qualquer avanço tecnológico e científico para o bem da humanidade é visto como sinal do fim dos tempos, por tanto, não é visto com bons olhos; preocupam-se mais com o porvir do que com a vida terrena. Vivem literalmente com a cabeça nas nuvens a afinal é das nuvens que virá o Senhor rodeados de anjos. Não é raro um ou outro alegarem que foram arrebatados (eu diria que foram arrebentados por essa teoria) ao céu ou viajaram ao inferno trazendo de lá revelações inéditas; um jornalismo ultra-terreno fantástico; uma reportagem celeste cujo guia foi nada mais nada menos que o próprio Jesus, quando não um anjo poderoso que não dá nem para olhar sua face.
  Essa escatologia fundamentalista já cometeu seu quinhão de erros. Alguns chegaram a marcar até o dia em que Cristo retornaria.
  É preciso entender que não dá para sistematizar a revelação - neste caso, toda teologia sistemática está em erro constante mesmo com a melhor das intenções. Quando a revelação é sistematizada uma transformação acontece: ela deixa de ser divina para se tornar explicações humanas. Quando o divino fica assim encarcerado, ele não é mais o divino: é o humano, tão somente humano.
   E então? Nada poderá ser dito afinal para não cometermos o mesmo erro de aprisionar o divino? Não é bem isso que quero dizer senhor(a) leitor(a). Digo que nada absolutamente objetivo poderá ser dito, pois, sobre o futuro - irreal - não temos certeza de nada. Tudo o que for dito sobre ele deve soar como uma utopia necessária para que assim a esperança nunca morra em nossos corações. A escatologia deve ser vista como mecanismo gerador de esperança; como fator confortante e, mesmo a parte que trata do juízo, deve ser vista em companhia da graça divina. (Nem o campo concreto/objetivo nem o campo abstrato/subjetivo são suficientes para explicar satisfatoriamente a temática da escatologia. Que campo seria esse então? Uma terceira via deve ser buscada com seriedade. Reflexos de escatologia em outras religiões e culturas diferentes também deve ser (re)visto. Acredito que permeia uma "escatologia cultural" no mundo. Temos que entende-la à luz de diferentes culturas e conjunções históricas.*) O inferno é uma sala por onde os loucos passam para serem consultados em outro lugar; o inferno é um caminho que trilhamos de vez em quando e não um lugar em si.**
   Qual é então a escatologia proposta? Aquela que gera em nós esperança, que nos faz enxergar o futuro não como objeto que está acolá (manipulável pela teologia) ou um lugar onde se irá chegar com o tempo, mas, ver o futuro como uma possibilidade passível de mudança, ajustes, aceitação ou negação. Um futuro que não existe pois está sendo construído por nossas escolhas.

*Ainda estou trabalhando nisso.
**Sobre inferno tratarei desse tema em breve. Aguarde.

ERIVAN

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

"Tendes que existir"*

É preciso compreender que nunca existirá uma filosofia justa no sentido de um sistema absolutamente perfeito, uma filosofia capaz de responder a todos os interrogantes e de decifrar todos os mistérios da existência humana. Por conseguinte, nós tratamos de saber simplesmente que a filosofia nos oferece na atualidade as perspectivas e as concepções mais adequadas para compreender a existência humana. Neste aspecto, creio que podemos aprender algo da filosofia existencialista, porque a existência humana constitui o primeiro objeto que suscita a atenção desta escola filosófica.

 Pouco poderíamos aprender dela se a filosofia existencial, como muitos supõe, pretendesse nos oferecer um modelo ideal de existência humana. O conceito de "autenticidade" (Eingentlichkeit) não nos apresenta tal modelo. A filosofia existencialista não me disse: "Tens que existir de tal ou qual maneira", senão que se limita a dizer-me: "Tendes que existir", ou, posto que essa exigência é, quiçá, excessivamente ampla, me mostra simplesmente o que significa existir. A filosofia existencialista trata de nos mostrar o que significa existir operando uma distinção entre o ser do homem como "existência" e o ser de todos os seres do mundo que não são "existentes" senão unicamente "subsistentes" (vorhanden). (Este uso técnico da palavra "existencial" se remonta a Kierkegaard.) Só os homens podem ter uma existência, porque só estes são seres históricos, quer dizer, porque cada homem tem sua própria história. Seu presente surge sempre de seu passado e desemboca em seu futuro. O homem cumpre sua existência se é consciente de que cada "agora" é o elemento de uma decisão livre: Que elementos de seu passado conservam ainda sua validez? Que responsabilidade lhe diz respeito frente a seu futuro, posto que ninguém pode ocupar o lugar de outro? E ninguém pode ocupar o lugar de outro, porque cada homem deve morrer sua própria morte. Cada homem cumpre sua existência em sua solidão.


*Este título é uma sugestão minha

Fonte: Rudolf Bultmann - Jesus Cristo e Mitologia

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Conversa de peixe

" ' Desculpe-me', disse um peixe a outro, 'você está mais velho e com mais experiência do que eu, e provavelmente poderá ajudar-me. Diga-me onde posso encontrar o que chamam Oceano? Eu o tenho buscado por toda parte, sem resultado'.


'O Oceano', respondeu o velho peixe, 'é onde você está justamente agora'


'Isto? Mas se isto nada mais é do que água... O que eu busco é o Oceano', replicou o jovem peixe, totalmente decepcionado, enquanto continuava nadando para procurá-lo em outra parte".


LONGE DALI:


"Desculpe-me", disse um jovem dirigindo-se a um senhor, "o senhor é mais velho que eu e com mais experiência e, provavelmente poderá ajudar-me. Diga-me: onde posso encontrar Deus?" ...



Será que a vida tem sentido?

Será que a vida tem sentido? Primeiro uma pergunta feita à pergunta: Qual é o sentido de "sentido"? Ou, o que queremos perguntar quando queremos saber o "sentido de algo"? "Sentido" aqui significa referir alguma "coisa" a um "conhecedor", de sorte que o propósito do objeto seja conhecido pelo conhecedor. Ou, dito de outra forma, "sentido" é a referência de um "objeto" a um "sujeito" de uma maneira que o sujeito perceba a razão e o propósito do objeto (um "sujeito" é alguém como capacidade de conhecer, e um "objeto" é alguma coisa que é conhecida). Por exemplo, se eu, um "sujeito", conheço um computador de maneira que entenda o seu propósito, estou relacionando-o a mim mesmo de forma que percebo o seu "sentido". Para um homem primitivo de uma tribo, por outro lado, um computador seria "sem sentido".

 Existem apenas duas respostas últimas à pergunta do início: Será que a vida tem sentido? A penúltima: "Eu não sei", ainda que seja a única resposta que alguns humanos chegam a dar em toda sua vida, basicamente não satisfaz. Dado o desejo estrutural dos humanos de sempre saber a resposta a toda pergunta, tal resposta que não resolve, sempre será levada a uma solução. Muitos indivíduos humanos podem nunca chegar a uma solução, mas outros de mesma estrutura mental continuarão sem desistir lutando por uma solução.

 Existem duas possíveis respostas últimas à pergunta. Uma é: Não. A vida humana  não tem sentido e é absurda. O problema de uma resposta desta natureza é que é fundamentalmente inaceitável para nossa natureza, que tem em seu cerne a necessidade de saber - sem limites. Dada a faculdade humana de conhecer abstratamente, ou seja, de uma maneira que não seja limitada a nenhuma coisa particular, o objeto de nosso desejo de conhecer está aberto ao infinito. Ora, dizer que nossa vida inteira não tem sentido simplesmente significa que nós somos incapazes de referir a realidade que experimentamos a nós próprios de forma que vejamos o seu propósito. Esse caminho seguido persistentemente leva inevitavelmente a "mal-estar" (Doença para a morte, Soren Kierkegaard), "násea" (Jean-Paul Sartre), "loucura" (Friedrich Nietzsche), pois tal modo de pensar é "loucura", isto é,  seguir a vereda da irracionalidade - a própria definição da loucura, não-sanidade. Mesmo os resolutos filósofos do pensamento existencialista que falaram da absurdidade da vida, no fim urgiram que os próprios humanos deem sentido à vida, afirmando que tal sentido não pode vir de fora, mas somente de dentro. Não obstante, no fim, também eles se afastaram de uma vida completamente sem sentido, inclinando-se ao bravo forjar do sentido dado por cada um - de outra forma, dizem eles, para além da ponta está o abismo da Nausée de Sartre, que se deve evitar a todo custo.

 A outra única resposta à pergunta se avida tem ou não sentido é: sim. A vida tem sentido, ou muitos sentidos. Isso implica que a realidade enquanto experimentada pode ser referida ao conhecedor. Implica de mais a mais que o relacionamento é tal que indica certa "direção" ao movimento, à mudança, que ocorre no saber, viver e agir humanos com conhecimento (além da natureza animal física dos humanos, esses três elementos são essencialmente o que torna homens e mulheres humanos). É certo falar de uma direção, de um telos, para a experiência humana, pois de outra forma dizemos que nossa atividade, nossa experiência são "sem meta" e "sem propósito". Vida implica experiência; experiência implica mudança; mudança implica movimento. Movimento pode ser "direcionado" ou "não direcionado", como ir para trás e para a frente ou para cima e para baixo. Mas no último caso dizemos que tal movimento "sem sentido" já foi rejeitado ao se dizer finalmente "não" à resposta que afirma que a vida não tem sentido. Portanto, afirmar que a vida tem sentido é implicar que ela tem certa direção.

Qual é, então o "sentido" da vida, em que "direção" ela está indo? Cada indivíduo humano deve buscar, para si, uma resposta a essa pergunta.


Fonte: O sentido da vida- no limiar do terceiro milênio
Leonard Swidler

domingo, 4 de dezembro de 2011

Perfeccionista


Não é raro que as pessoas, ao falarem de si mesmas, proclamem como a sua principal virtude a coerência, ou seja, a determinação de não ter uma vida com duplicidades, pensando uma coisa e fazendo outra. Claro que, para indicar modéstia, o auto-elogio vem acompanhado da frase "mas sou alguém cheio de defeitos; por exemplo, sou muito perfeccionista". O "perfeccionismo" parece ser o defeito predileto dos que se consideram sem defeitos; é difícil que alguém se declare dissimulado, fingido ou incongruente e, por isso, o "querer tudo certinho" é a grande e positiva distinção entre os mortais que padecem de alguma debilidade de caráter.

Fonte: Não espere pelo epitáfio... Provocações filosóficas
Mario Sergio Cortella

sábado, 3 de dezembro de 2011

Sentimentos passageiros

A minha casa está vazia.
Minha estante, abarrotada de livros que não conversam comigo.
As fotos mudas me olham friamente - um momento para sempre eternizado.
Ao homem foi dado o dom de eternizar coisas.
Eternizam-se as palavras: que o digam as cartas, os livros. Eles dizem a mesma coisa num monólogo eterno; eternizam-se as imagens: estas foram para sempre capturadas num único momento. Mas há algo que os homens não conseguem eternizar: os sentimentos. Estes, vem e vão quando bem entendem. Não são eternos... Ainda bem. Pois, isso significa dizer que, um dia (não sabemos qual), o quarto escuro se preencherá de luz. As sombras serão varridas do ambiente. Porém, se o quarto estiver claro - a lógica será a mesma -, um dia estará mergulhado na escuridão. Eu chamo isso de o "Vai-vem dos sentimentos". O ciclo eterno das paixões transitórias...
 Acostume-se com isso: hoje você está apaixonado(a) amanhã não; hoje você está triste, amanhã não... E assim a vida se faz e refaz.
                          Erivan

A Estranha

Você me visita de vez em quando.
Arrebata meus pensamentos.
Nesse momento, não consigo pensar em mais nada; só em Ti Dona da minha mente; que me faz sonhar contigo.


Ladra do meu tempo...




Tu te apresentas a mim com o rosto de moças que conheço.


Ladra das sensações...


Até o cheiro delas tu imitas.
Quem és tu Ladra das emoções?


Tu mudas de corpo como espíritos opressores.
Entras no corpo d'alguma mulher - qualquer uma - e, me oprimes de paixão.
O que faço para ver teu verdadeiro rosto, tu que mudas de face a toda hora?


O que faço para abraçar-te, tu que mudas de corpo constantemente?


Não importa em que corpo estejas nem com qual rosto te apresentes eu sei - sempre sei - que és tu.


Apenas permaneces Estranha...


                                           Erivan

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Cheio de Vazio

As vezes me sinto Vazio. Tão Vazio...
Sinto que não deveria estar aqui,
mas estou!
Sinto que nem estou vivo,
mas estou!


 Penso que os dias deveriam encurtar e, dessa forma, diminuir minha existência.


Com o que ei de comparar minha vida?
Com um caderno universitário; faltando páginas, rabiscado...
Antes tão organizado; antes com páginas e páginas em branco, agora cheio de escrita. O cheio paradoxalmente é a causa do vazio. O Vazio só existe a partir do momento que eu estou cheio de conhecimento sobre ele; a partir do momento que eu o conheço.
Quando eu estou cheio da vida o Vazio se aloja.


 Interessante isso né?


Tenho algumas anotações na minh'alma. Anotações interessantes. Tenho algumas memórias no rodapé. Leia. Está em meio a páginas rasgadas. Muitas escritas são sem sentido, lhe adianto. Mas esse sou eu: um ser sem sentido (algumas vezes).


Talvez eu seja como um livro (nunca lido é bem verdade). Não queira tentar ler. Você nunca ouviu falar que é muito perigoso uma mente humana examinar outra mente humana? Pois é.
Aí está o princípio de toda loucura.


Que droga de Vazio!!!


Mas eu não sou louco!
Não sou ladrão.
Porque me acusas de roubar o teu futuro?
Se roubei teu futuro não despedacei assim o meu?
Mas eu não sou louco! Só porque estou Cheio de Vazio?
Não me culpe por ser a pessoa errada; minha aparência é certa, não é?


Sinto que sempre estou certo!
Não estou!


Sinto que sempre estou errado!
Aí eu tô mesmo! A vida me confirmou. A vida toda certinha mostra que eu estou errado sempre.


Despedaçou-se o mundo; o universo particular foi despedaçado pelo apocalipse da vertigem produzida pelo peso da existência.


O peso da existência se confunde com o cheio de Vazio infinito. A liberdade é tão total que não existe a presença de ninguém além de nós mesmos: "EU" e "COMIGO".
É o "eu" "comigo", se duvida do que eu digo ouça o que me aconteceu:
Certo dia me vi fora de mim. Um outro ser se projetava de mim acima de mim. E qual era meu ponto de vista? Me via de cima para baixo e de baixo para cima. Os dois eram "eu".
Por que será que nunca sonhei dentro de mim mesmo? Sempre me vi de fora, como num filme. Eu me vendo em ação.


Mas porque mudei o rumo da conversa? Não estava eu falando de vazio? Porque mudei o rumo? Pra tentar preencher o Vazio com palavras. Acho que não consegui!


Enrolei e não expliquei o Vazio.
Nem vou explicar.
Porque lá no fundo
você sabe como é 
sentir-se
Cheio de
Vazio.


ERIVAN