segunda-feira, 9 de junho de 2014

O Dia em Que Decidi Morrer (A morte é onde mora a saudade)

Alexandre Afonso
"Nunca falta a ninguém um bom motivo para se suicidar"
Cesare Pavese


Assim foi com o Cb PM Alexandre. profissional que tive o prazer de conhecer e trabalhar. E hoje fiquei sabendo de sua partida; e mais: Ele mesmo quem decidiu o dia da sua morte. Assim, perdemos este grande profissional.

Assim, sem aviso prévio, o LUTO bate uma vez mais em minha porta...

Assim, sem que eu queira, meus pés me levarão novamente ao cemitério...

Me pego pensando numa frase de Schopenhauer: "todos nós temos uma sentença de morte." Então a diferença entre mim e ti, amigo de farda, é que foste primeiro. Eu vou depois... O que nos diferencia, neste exato momento, é o tempo.

Depois da triste notícia, peguei um livro na estante. Coincidentemente o título do livro é Superando a dor do Suicídio. Numa página qualquer, encontrei a seguinte citação: "O pior de tudo é que jamais poderemos perguntar ao suicida: 'Por quê?'" Apesar da pergunta ser inevitável a resposta não me interessa.

Eu sei que ninguém decide morrer do dia para a noite. O suicida vai morrendo aos poucos... A vida lhe é um peso; se considera um morto enterrado no seu próprio corpo, enterrado acima do chão. Palavras que estão associadas a suicídio: raiva, desânimo, falta de esperança, desamparo, falta de valor, depressão, medo, tragédia, mistério, vergonha, vingança, protesto, alívio da dor, busca por soluções, um grito por ajuda, um legado destruído, preguntas não respondidas, sonhos não realizados. erros, desespero, amargura...

Que momento sombrio nos aguarda? Citando Lya Luft: 

Na frente do rosto afivelei esta máscara
para que os outros me suportem:
atrás dela, o redemoinho
do sangue da solidão borbulha.
E a minha dor ferve em mim.

Embora a morte seja o sinal de igualdade na equação da vida, nem todos entram pelos seus portais da mesma maneira. Eduardo Galeano diz que cada ser humano entra na morte como melhor lhe parece. Alguns em silêncio, caminhando na ponta dos pés; outros recuando; outros ainda pedindo perdão ou licença. Há quem entre discutindo ou exigindo explicações, e há quem abra o caminho a pauladas e xingando. Há quem a abrace. Há os que fecham os olhos; há quem chore.

Rubem Alves nos diz o seguinte:

Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? O diabo é deixar de viver". Eram seis da manhã. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginaria: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?" Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore que eu vou te abraçar..." Ela, menina de 3 anos, sabia que a morte é onde morar a suadade...

É amigo Alexandre, a morte é onde mora a saudade!

"Então é pecado
Arrojar-se à casa da morte,
Antes que a morte nos venha buscar?"
Shakespeare

Não é essa a nossa pergunta. A pergunta mais correta seria: Como conveiver com a saudade?

Encontrei alguns poemas do Manuel Bandeira. Deixo, registrado:

Canção do suicida

Não me matarei meus amigos.
Não o farei, possivelmente.
Mas que tenho vontade, tenho.
Tenho, e, muito curiosamente.

Com um tiro no ouvido, 
Vingança contra a condição
Humana, ai de nós! Sobre-humana
De ser dotado de razão.

A morte é onde mora a sudade; e a saudade mora em cada um de nós...

Adeus

...
...

Ou melhor:
Até logo



Eu Erivan Silva lamento e, agora, de luto contra uma saudade avassaladora.





Um comentário: