terça-feira, 27 de maio de 2014

Amar ou Depender?

Um adolescente enviou a seguinte carta para sua namorada:

Se você está ao meu lado, eu adoro, aproveito, fico feliz, alegra a minha alma; mas se não está, ainda que eu sinta a sua falta, posso seguir em frente. Posso aproveitar uma manhã de Sol, meu prato preferido segue me agradando (ainda que eu coma menos), não deixo de estudar, minha vocação segue de pé e meus seguem me atraindo. É verdade que sinto a falta de alguma coisa, que existe algo de intranquilidade em mim, que sinto saudades, mas sigo em frente, sigo e sigo. Fico triste mas não me deprimo. Posso continuar tomando conta de mim mesmo, apesar da sua ausência. Eu a amo, e você sabe que não é mentira, mas isso não quer dizer que não consiga sobreviver sem você. Aprendi que desapego é independência afetiva, e essa é minha proposta... Nada mais de atitudes possessivas e dominadoras... Sem deixar de lado nossos princípios, vamos nos amar com liberdade e sem medo de sermos o que somos.

Esse escrito encontra-se no livro do Walter Riso Amar ou Depender? Dada a importância desse livro e a condição existencial em que muitos se encontram, decidi transcrever um trecho.

Dependência afetiva é um vício

Depender da pessoa que se ama é uma maneira de se enterrar em vida, um ato de automutilação psicológica em que o amor-próprio, o auto respeito e nossa essência são oferecidos e presenteados irracionalmente. Quando a dependência está presente, entregar-se mais do que um ato de carinho desinteressado e generoso, é uma forma de capitulação, uma rendição conduzida pelo medo com a finalidade de preservar as coisas boas que a relação oferece. Sob o disfarce de amor romântico, a pessoa dependente afetiva começa a sofrer uma despersonalização lenta e implacável até se transformar num anexo da pessoa "amada", um simples apêndice. Quando a dependência é mútua, o enredo é funesto e tragicômico: se um espirra, o outro assoa o nariz. Ou, numa descrição igualmente doentia: se um sente frio, o outro coloca o casaco.

"Minha existência não tem sentido sem ela"; "Vivo por ele e para ele"; "Ela é tudo para mim"; "Ele é a coisa mais importante da minha vida"; "Não sei o que faria sem ela"; "Se ele me faltasse eu me mataria"; "Eu venero você"; "Preciso de você"; enfim, a lista desse tipo de expressões e "declarações de amor" é interminável e bastante conhecida. Em mais de uma oportunidade, as recitamos, as cantamos embaixo de uma janela, as escrevemos ou, simplesmente, elas brotam sem nenhum pudor de um coração palpitante e desejoso de transmitir afeto. Pensamos que essas afirmações são demonstrações de amor, representações verdadeiras e confiáveis do mais puro e incondicional dos sentimentos. De forma contraditória,a tradição tentou incutir em nós um paradigma distorcido e pessimista: o amor autêntico, irremediavelmente, deve estar infectado de dependência. Um absurdo total. Não importa como se queira argumentar, a obediência devida, a adesão e a subordinação que caracterizam o estilo dependente não são recomedáveis.

Desejo não é dependência afetiva

 A apetência por si só não chega a configurar doença do apego. O gosto pela droga não é só o que define o drogado, mas sua incompetência para largá-la ou tê-la sob controle. Abdicar, resignar-se e desistir são palavras que o dependente desconhece. Querer algo com todas as forças não é mau; transformar esse algo em imprescindível, sim. A pessoa dependente afetiva nunca está preparada para a perda porque não concebe a vida sem sua fonte de segurança e prazer. O que define a dependência não é tanto o desejo quanto a incapacidade de renunciar a ele. Se há síndrome de abstinência, há apego irracional.

O apego é a muleta preferida do medo, um calmante com perigosas contraindicações.

Lembre-se: o desejo move o mundo, e a dependência o freia. A ideia não é reprimir o desejo natural que surge do amor, mas fortalecer a capacidade de se libertar quando é preciso.

A independência afetiva não é indiferença

De forma errônea, entendemos a independência afetiva como sendo o endurecimento do coração, a indiferença ou a insensibilidade, mas não é assim. Desapego não é desamor, é uma maneira suadável de se relacionar cujas premissas são independência, dizer não a posse e não a dependência. A pessoa desapegada é capaz de controlar o medo do abandono, não considera que deva destruir a própria identidade em nome do amor, mas tampouco promove o egoísmo e a desonestidade. Desapegar-se não é sair correndo em busca de um substituto afetivo, tornar-se um ser carente de toda a ética ou instigar a promiscuidade. A palavra liberdade nos assusta, e por isso a censuramos.

Não podemos viver sem afeto, ninguém pode fazer isso, mas podemos amar sem nos escravizarmos.

A dependência afetiva desgasta e faz adoecer

Os ativo- dependentes podem se tornar ciumentos e hipervigilantes, ter ataques de ira, desenvolver padrões de comportamentos obsessivos, agredir fisicamente ou chamar a atenção de maneira inadequada, inclusive mediante atentados contra a própria vida. Os passivo-dependetes tendem a ser submissos, dóceis e extremamente obidientes para tentarem ser agradáveis e evitar o abandono. O repertório de estratégias de retenção, de acordo com o grau de desespero e a capacidade inventiva do dependente afetivo, pode ser diversificado, inesperado e especialmente perigoso.

O autor prossegue falando sobre a Imaturidade emocional, desta feita, assinala três manifestações da imaturidade:

(1) baixa tolerância ao sofrimento (2) baixa tolerância à frustração e (3) ilusão de permanência.

Até a qui tivemos uma breve introdução da excelente obra de Walter Riso. Meu propósito aqui foi somente levantar a questão, problematizar sem comentários adicionais e refletir sobre nosso própro relacionamento. É bem verdade que se você continuar até o fim a leitura do livro Amar ou depender? receberá lições preciosas de como se libertar da dependência afetiva. No mais, boa leitura...

domingo, 4 de maio de 2014

sábado, 3 de maio de 2014

O Tempo (inexorável) risca meu rosto


Hoje, quase que por acaso, lembrei-me da poesia da Viviane Mosé. Percebi o quanto faz sentido:

Quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos? O tempo andou riscando meu rosto com uma narvalha fina sem raiva nem rancor, O tempo riscou meu rosto com calma...



Percebi também, ao me olhar no espelho, que o Tempo (Senhor da eternidade) "andou riscando meu rosto"... Como não me recordar da grande Cecilia Meireles, na poesia RETRATO:

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro.
Nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas.
Eu não tinha este coração que nem se mostra.
E não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil.
Em que espelho ficou perdida a minha face?



É obvio que não me sinto alguém tão velho, mas sinto, sem sombra de dúvidas, o peso cruel da passagem inexorável do Tempo (Senhor da eternidade) Este, me tem em suas mãos. O Salmo 90 belíssimo em sua composição poética diz:

Vers.5 Tu nosleva pelo rio da vida tão depressa
quanto um sonho, como a erva que nasce pela
madrugada, cresce durante a manhã e a tarde murcha e morre.
(...) e os anos se vão rápidos e tristes como um suspiro.

Quando sentimos o poder do tempo sobre nós, percebemos que tudo tem um toque de despedida... É como se dissésse-mos adeus a tudo que fazemos. Uma leve tristeza e melancolia me toma pela mão e me conduz por um caminho de nostalgia...
Medo da velhice? Não
Medo de morrer? Também não.
Pois, nas palavras do poeta:

 "O importante não é a chegada nem a partida e sim a travessia."

Nascer ou morrer não interessa... Não mais.