domingo, 23 de agosto de 2015

Paradoxo do hipócrita

"O homem não suporta sua realidade. Não se vê como é. Como dizemos hoje em dia, o homem é ideológico a respeito de si mesmo. Produz imagens irreais sobre o seu próprio ser." Paul Tillich

Utilizo aqui o texto tillichano como pano de fundo para aquilo que eu chamo de o paradoxo do hipócrita. Isto é, o homem sempre representa um papel, tanto para a sociedade, quanto para si próprio. As imagens irreais que ele produz sobre si são sempre nobres, mesmo que ele seja um canalha. Neste sentido, a filósofa brasileira Márcia Tiburi diz que:

É muito fácil encontrar alguém com um temperamento melancólico que costume se autodepreciar. Há quem se diga feio, burro, mau, louco. Ninguém, no entanto, se autointitula canalha, adjetivo que expõe o máximo grau subjetivo da falta de ética. Infelizmente, o canalha se esconde. Mas mesmo que se mostrasse, a exposição de sua verdade não seria suficiente para mudar seu rumo subjetivo. A escolha do canalha está sempre dada: ele vai escolher em favor de si mesmo, mesmo que não precise de nenhum favor, mesmo que não saiba de que se trata de uma escolha.

Por que paradoxo? simplesmente porque por mais hipócrita que eu seja, tenho para mim que estou sendo original/autêntico. Por não suportar minha própria realidade enceno, tal qual um ator (grego hipócrités) um papel importante de uma fantasia que eu mesmo criei. Certamente a realidade não é tão amigável com nosso querido "EU"... Os fracassados sempre permanecerão anônimos. Sendo assim, o homem se permite "encenar". Isto é, aquele que fracassou não fui "eu", apenas uma personagem que eu próprio criei...

Isso eu chamo de paradoxo