terça-feira, 22 de setembro de 2015

Encontrei você na cama, mas você não estava dormindo

Encontrei você na cama, mas você não estava dormindo.

Deitada como de costume, te vi. Pensei comigo: minha linda de tão cansada apagou.

Inclinei-me para beijar-te e de súbito senti que algo estava errado.

Estavas fria, imóvel...
Nos teus olhos semicerrados não havia brilho algum. Tu'Alma não estava lá.

Quem dera estivésseis dormindo amada minha. E assim nos aconchegaríamos em nosso ninho de fantasias.

Mas não, não estavas dormindo, nem fingias... E esta noite deitarei só. Dormirei só, numa cama imensa e fria.

E tu dormirás no chão. Abaixo do chão. Numa cantinho onde não cabe mais ninguém... Apenas teu corpo sem alma
Apenas teus olhos sem brilho.

Nos meus sonhos eu abro a porta do quarto e te encontro. Lá estás.
Radiante de amor teus olhos brilham.
Tua boca me seduz
Teu calor me recebe em braços amorosos e fico feliz por tê-la comigo, amor da minha vida.


Não vamos dormir esta noite.

Erivan Silva

domingo, 13 de setembro de 2015

O SÉTIMO SELO - o jogo da morte

O SÉTIMO SELO - o jogo da morte
Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve no céu um silêncio durante cerca de meia hora. (Apocalipse 8.1)

O filme do diretor sueco Ingmar Bergman, O sétimo selo, é no mínimo inquietante. Um cavaleiro, Antonius Block, ao retornar de uma cruzada (séc XIII) encontra sua terra totalmente devastada pela peste negra. Não bastasse isso, a religião (católica) demoniza as mulheres. Acusando-as de bruxaria são queimadas no fogo. O cenário é caótico e apocaliptico.

A morte, a peste negra, o diabo dentre outros, são os grandes medos da Idade Média. O cenário elenca todos esses elementos e uma morbidez angustiante perpassa por praticamente todas as personagens. A morte é personificada e se apresenta a Antonius Block, este, por sua vez, tenta ludibriar a morte em um jogo de xadrez.

Em uma das cenas, o cavaleiro vai até uma igreja e se confessa ao padre sem saber que este é a própria morte disfaçada. Me chama atenção o diálogo que se segue:


Cavaleiro
"Quero confessar com cinceridade, mas meu coração está vazio. O vazio é um espelho que reflete no meu rosto. Vejo minha própria imagem e sinto repugnância e medo. Pela indiferença ao próximo, fui rejeitado por ele [Deus]. Vivo num mundo assombrado, fechado em minhas fantazias."
Padre
"Agora quer morrer?"
Cavaleiro
"Sim, eu quero."
Padre
"E pelo que espera?"
Cavaleiro
"Pelo conhecimento."

"É tão inconcebível tentar compreender Deus? Por que ele se esconde em promessas e milagres que não vemos? Como podemos ter fé se não temos fé em nós mesmos? O que acontecerá com aqueles que não querem ter fé ou não têm? Por que não posso tirá-lo de dentro de mim? Por que ele vive em mim de uma forma humilhante apesar de amaldiçoa-lo e tentar tirá-lo do meu coração? Por que, apesar de ele ser uma falsa realidade eu não consigo ficar livre? (...) Quero conhecimento, não fé... Quero que Deus estenda as mãos para mim, que mostre seu rosto, que fale comigo."
Padre
"Mas ele fica em silêncio."
Cavaleiro
"Eu o chamo no escuro mas parece que ninguém me ouve."
Padre
"Talvez não haja ninguém."
Cavaleiro
"A vida é um horror. Ninguém consegue conviver com a morte e na ignorância de tudo."
Padre
"As pessoas quase nunca pensam na morte."
Cavaleiro
"Mas um dia na vida terão de olhar para a escuridão. (...) Temos de imaginar como é o medo e chamar esta imagem de Deus."
Percebemos claramente como a fala da personagem é aforismática. Nos lembra até os escritos de Nietzsche. Em uma cena, o cavaleiro conversa com uma jovem acusada de bruxaria:


"Está me ouvindo? Dizem que esteve com o diabo."

"Por que pergunta?"

"Tenho motivo pessoal. Quero encontrá-lo."

"Por quê?"

"Quero perguntar a ele sobre Deus. Ele deve conhecê-lo mais do que qualquer um."
Não é totalmente incoerente procurar por Deus atravez do diabo. Nietzsche no livro ALÉM DO BEM E DO MAL, no aforismo 129, disse:

"O diabo tem as mais amplas perspectivas com relação a Deus, por isso se mantêm tão distante dele. - O diabo, isto é, o mais amigo do conhecimento."

A analogia que percebo é que tal como um jogo assim é a vida. Morrem peões, rainhas, cavalos, bispos... Fazemos de tudo para prolongar a vida, mesmo sabendo que nesse jogo, a morte será sempre vencedora. É assim que termina o filme, Antonius Block juntamente com aqueles que ele promete protejer, são arrastados pela morte. Todos de mãos dadas descem ao reino da escuridão.
 
 
 

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

7 de setembro de 1822 - a Independência do Brasil

7 DE SETEMBRO DE 1822 - INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
Por Cecília Salles Oliveira

7 de setembro, dia da independência do Brasil, é a mais conhecida e celebrada data nacional. Está associada à proclamação feita, em 1822, pelo príncipe D. Pedro, às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo, acontecimento que teria assinalado o rompimento definitivo dos laços coloniais e políticos com Portugal.

Entretanto, o episódio do Ipiranga não teve repercussão no momento em que ocorreu, pois a separação do Reino europeu não era uma decisão consensualmente aceita pelos diferentes segmentos da sociedade na época. tanto o delineamento do império e da monarquia constitucional quanto o reconhecimento da data de 7 de setembro como marco da história da nação brasileira foram resultado de complexo processo de lutas políticas que tiveram lugar no Rio de Janeiro e nas demais províncias do Brasil durante a primeira metade do século XIX.

Após 1860, a data começou a ganhar importância no calendário de comemorações oficiais do Império, período em que também foram erguidos monumentos em homenagem à fundação da nacionalidade. Em 1862, foi inaugurada a estátua equestre de D. Pedro I na atual Praça Tiradentes, na cidade do Rio de Janeiro, em honra aos quarenta anos da Independência e à Carta Constitucional de 1824. 1885 e 1890, realizaram-se, na cidade de São Paulo, as obras de construção do Monumento do Ipiranga, palácio de feições renascentistas, edificado no supostos local do famoso "grito", e que após a proclamação da República passou a abrigar o Museu Paulista, popularmente conhecido como Museu do Ipiranga. Especialmente para ornamentar esse edifício, Pedro Américo confeccionou, entre 1886 e 1888, o painel Independência ou morte, imagem emblemática do 7 de setembro.

Com a organização do regime republicano, esse dia passou a figurar como a mais significativa data da história brasileira, sendo festejada anualmente com desfiles militares e outras manifestações. Essas tradições celebrativas se consolidaram em 1922, por ocasião do Centenário da Independência, momento em que foi oficialmente instituído o Hino Nacional cantado até hoje.

A reiterada associação entre Independência e separação de Portugal acabou simplificando a compreensão das circunstâncias históricas do início do século XIX, interpretando-se muitas vezes de forma literal a data de 7 de setembro, como se fosse um fato capaz de alterar o curso da história, quando constitui, sobretudo, um ponto de referência simbólico, cuja definição se deu no campo da política e implicou o esquecimento de outros marcos, a exemplo da abdicação de D. Pedro I, a 7 de abril de 1831.

Além disso, as palavras "independência" e "separação" referenciam situações diferentes, sugerindo que o liame construído historicamente entre elas não é tão cristalino quanto a princípio pode-se pensar. "Independência" designa liberdade ou autonomia. Uma sociedade é considerada "independente" quando possui as condições da autonomia política, isto é, quando detém o poder de elaborar as leis e de decidir o perfil do Estado e dos princípios essenciais que deverão rege-la. Já a expressão "separação" indica o ato pelo qual dois corpos ou entidades se distanciam, não possuindo necessariamente conotação política.

Em 1822, a palavra "independência" expressava a "condição do exercício da liberdade". Naquela época, liberdade e independência eram situações bastantes específicas, já que somente poderiam se concretizar no interior de governos constitucionais. Tratava-se, assim, de questão histórica e política explicitada pelo desenrolar das revoluções inglesas do século XVII e dos movimentos revolucionários que se manifestaram na Europa e na América entre os séculos XVIII e XIX, a exemplo da Revolução Francesa e das guerras de independência norte-americanas. 

A partir dessas referências, várias indagações podem ser formuladas em relação à Independência do Brasil. Que circunstâncias poderiam auxiliar na compreensão da dinâmica da sociedade que se constitui na América portuguesa, no início do século XIX? Que situações e fundamentos permitiram que essa sociedade (ou parcelas significativas dela) se considerasse capacitada para exercer a autonomia política e pleitear um lugar entre as demais nações do mundo?

A mais recente produção acadêmica e editorial brasileira dedicada ao tema tem procurado encaminhar essas e muitas outras indagações. Procura-se reconstituir, pela mediação de fontes variadas e diferentes metodologias, as significações mais abrangentes de lutas políticas que não se resumem à sequência cronológica mais conhecida, geralmente situada entre o movimento revolucionário em Portugal, deflagrado em agosto de 1820, e a proclamação de 7 de setembro de 1822.

Predomina  atualmente o reconhecimento de que a Independência foi um dos momentos históricos cruciais do prolongado processo de lutas políticas que resultou na construção do Estado Nacional e da nação na primeira metade do século XIX. Prevalece a compreensão de que, entre 1820 e 1822, quer no Rio de Janeiro quer nas demais províncias, estavam em confronto grupos de interesses, defensores de propostas divergentes, e que ganhava ampla repercussão nessa época a possibilidade de declarar-se a Independência sem que houvesse a separação de Portugal. Isso porque, desde de 1817, desenvolvia-se intenso debate em torno da reorganização de um império português fundamentado em governo constitucional e representativo, obra política que deveria garantir a unidade, mas no âmbito de nova ordenação entre os reinos do Brasil e  de Portugal. Todavia, durante a institucionalização do Estado Liberal, em decorrência da Revolução do Porto, evidenciaram-se profundas incompatibilidades entre os interesses dos "portugueses" de ambos os lados do Atlântico, o que provocou o reajustamento das pretensões e projetos de grupos mercantis, enraizados no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em São Paulo, que se voltaram para a opção separatista tendo à frente D. Pedro.

Nesse sentido, a tradicional associação entre independência, separação da antiga metrópole e conflitos de caráter colonial deu lugar a interrogações que procuram evidenciar as peculiaridades da configuração de um corpo político autônomo, no início do século XIX, denominado Império do Brasil.


Extraído do livro:
DICIONÁRIO DE DATAS DA HISTÓRIA DO BRASIL
Circe Bittencourt (org)

sábado, 5 de setembro de 2015

Onde está o humano no cristão?

Por Erivan Silva

O cristão em sua febril busca por perfeição se desumaniza a cada ato, a cada ritual... "Sede perfeitos como perfeito é vosso pai que está nos céus." O crente seguramente acredita que está seguindo um pessoa. Mas, na verdade, se converteu à uma ideia e desde então a nutre e a segue personificadamente. O apóstolo Paulo a certa altura de sua carta aos filipenses, chega a afirmar: "Não que eu já o tenha alcançado [ressurreição] ou que já seja perfeito, mas prossigo para ver se o alcanço, pois que também já fui alcançado por Cristo Jesus." Para quem conhece as cartas paulinas sabe que ele pregava a ressurreição do corpo; ressurreição de um corpo perfeito, incorruptível. Em outras palavras, Paulo acreditava que com a ressurreição do corpo viria a perfeição. Agora, o que em suma significa ser perfeito é uma questão que a Bíblia não deixa claro. E, além do mais, a experiência nos mostra que humano algum é perfeito, e que o erro (pecado para os cristãos) é até necessário para o aprendizado e o desenvolvimento humano.

Onde está o humano que se manifesta no cristão quando este nega sua própria sexualidade, nega seu corpo, nega sua (única) vida em nome de uma ideia/anseio que ele chama de Deus ou Jesus?

Nietzsche acertadamente pergunta: Que validade tem, afinal de contas, ser cristão se este vive ameaçado pela terrível punição de ser excluído da presença de Deus se não se comportar "bem"? Se não se enquadrar na sua "moral"?