Abelardo e Heloísa

É um túmulo de mármore branco, no cemitério Père-La-Chaise, em Paris. Sob a proteção de um docel rendilhado, também de mármore, eles se encontram em sua forma definitiva, modelados pela memória, pela noite, pelo desejo. Deitados um ao lado do outro, em vestes mortuárias, sem se tocarem, rostos voltados para o céu, mãos cruzadas sobre o peito, sem desejo: assim um escultor os esculpiu, obediente à forma como a tradição religiosa imobilizou os mortos. Mas se a escolha fosse deles, a escultura seria outra: O beijo , de Rodin, seus corpos nus abraçados. E as palavras gravadas seriam de Drummond: O amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor. Assim é o túmulo de Abelardo e Heloísa: amaram de forma apaixonada e impossível, irremediavelmente separados um do outro pela vida, na esperança de que a morte os ajuntasse, eternamente. O amor feliz não vira literatura ou arte. Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, As...