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Mostrando postagens de 2015

Três crucificados

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Três Crucificados Chovia bastante e fazia frio. Hoje, definitivamente, ele não sairia de casa. "Um bom lugar pra ler um livro". Lembrou-se do Djavan. Um lugar ele têm: sua casa. Tempo ocioso não lhe falta e na estante, a quantidade de livros é absurda. "Conversa entre mortos" totengespräche. Afinal, dos seus autores favoritos o certo é que a maioria já morreu. Não de overdose. Lembrou-se do Cazuza. Mas suas obras aí estavam. Ideias que se concretizaram; tornaram-se em tinta, em letras, em palavras, em livros, em carne. Sua carne, seu sangue. Lembrou-se do evangelho de João. Hoje, ele pode se alimentar das ideias alheias, de pessoas que ele nunca conheceu. À sua esquerda, afixado na parede, estava uma replica do quadro do Salvador Dali. O Cristo de São João da Cruz 1951. Na imagem o Salvador ali, na cruz, visto de cima para baixo. É realmente uma imagem surrealista. Magnífica de se ver. O Cristo só. Não se vêem os outros dois que foram crucificados com ele. Ne...

Encontrei você na cama, mas você não estava dormindo

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Encontrei você na cama, mas você não estava dormindo. Deitada como de costume, te vi. Pensei comigo: minha linda de tão cansada apagou. Inclinei-me para beijar-te e de súbito senti que algo estava errado. Estavas fria, imóvel... Nos teus olhos semicerrados não havia brilho algum. Tu'Alma não estava lá. Quem dera estivésseis dormindo amada minha. E assim nos aconchegaríamos em nosso ninho de fantasias. Mas não, não estavas dormindo, nem fingias... E esta noite deitarei só. Dormirei só, numa cama imensa e fria. E tu dormirás no chão. Abaixo do chão. Numa cantinho onde não cabe mais ninguém... Apenas teu corpo sem alma Apenas teus olhos sem brilho. Nos meus sonhos eu abro a porta do quarto e te encontro. Lá estás. Radiante de amor teus olhos brilham. Tua boca me seduz Teu calor me recebe em braços amorosos e fico feliz por tê-la comigo, amor da minha vida. Não vamos dormir esta noite. Erivan Silva

O SÉTIMO SELO - o jogo da morte

O SÉTIMO SELO - o jogo da morte Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve no céu um silêncio durante cerca de meia hora. (Apocalipse 8.1) O filme do diretor sueco Ingmar Bergman, O sétimo selo, é no mínimo inquietante. Um cavaleiro, Antonius Block, ao retornar de uma cruzada (séc XIII) encontra sua terra totalmente devastada pela peste negra. Não bastasse isso, a religião (católica) demoniza as mulheres. Acusando-as de bruxaria são queimadas no fogo. O cenário é caótico e apocaliptico. A morte, a peste negra, o diabo dentre outros, são os grandes medos da Idade Média. O cenário elenca todos esses elementos e uma morbidez angustiante perpassa por praticamente todas as personagens. A morte é personificada e se apresenta a Antonius Block, este, por sua vez, tenta ludibriar a morte em um jogo de xadrez. Em uma das cenas, o cavaleiro vai até uma igreja e se confessa ao padre sem saber que este é a própria morte disfaçada. Me chama atenção o diálogo que se segue: Caval...

7 de setembro de 1822 - a Independência do Brasil

7 DE SETEMBRO DE 1822 - INDEPENDÊNCIA DO BRASIL Por Cecília Salles Oliveira 7 de setembro, dia da independência do Brasil, é a mais conhecida e celebrada data nacional. Está associada à proclamação feita, em 1822, pelo príncipe D. Pedro, às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo, acontecimento que teria assinalado o rompimento definitivo dos laços coloniais e políticos com Portugal. Entretanto, o episódio do Ipiranga não teve repercussão no momento em que ocorreu, pois a separação do Reino europeu não era uma decisão consensualmente aceita pelos diferentes segmentos da sociedade na época. tanto o delineamento do império e da monarquia constitucional quanto o reconhecimento da data de 7 de setembro como marco da história da nação brasileira foram resultado de complexo processo de lutas políticas que tiveram lugar no Rio de Janeiro e nas demais províncias do Brasil durante a primeira metade do século XIX. Após 1860, a data começou a ganhar importância no calendário de...

Onde está o humano no cristão?

Por Erivan Silva O cristão em sua febril busca por perfeição se desumaniza a cada ato, a cada ritual... "Sede perfeitos como perfeito é vosso pai que está nos céus." O crente seguramente acredita que está seguindo um pessoa. Mas, na verdade, se converteu à uma ideia e desde então a nutre e a segue personificadamente. O apóstolo Paulo a certa altura de sua carta aos filipenses, chega a afirmar: "Não que eu já o tenha alcançado [ressurreição] ou que já seja perfeito, mas prossigo para ver se o alcanço, pois que também já fui alcançado por Cristo Jesus." Para quem conhece as cartas paulinas sabe que ele pregava a ressurreição do corpo; ressurreição de um corpo perfeito, incorruptível. Em outras palavras, Paulo acreditava que com a ressurreição do corpo viria a perfeição. Agora, o que em suma significa ser perfeito é uma questão que a Bíblia não deixa claro. E, além do mais, a experiência nos mostra que humano algum é perfeito, e que o erro (pecado para os cristãos) ...

Paradoxo do hipócrita

"O homem não suporta sua realidade. Não se vê como é. Como dizemos hoje em dia, o homem é ideológico a respeito de si mesmo. Produz imagens irreais sobre o seu próprio ser." Paul Tillich Utilizo aqui o texto tillichano como pano de fundo para aquilo que eu chamo de o paradoxo do hipócrita. Isto é, o homem sempre representa um papel, tanto para a sociedade, quanto para si próprio. As imagens irreais que ele produz sobre si são sempre nobres, mesmo que ele seja um canalha. Neste sentido, a filósofa brasileira Márcia Tiburi diz que: É muito fácil encontrar alguém com um temperamento melancólico que costume se autodepreciar. Há quem se diga feio, burro, mau, louco. Ninguém, no entanto, se autointitula canalha, adjetivo que expõe o máximo grau subjetivo da falta de ética. Infelizmente, o canalha se esconde. Mas mesmo que se mostrasse, a exposição de sua verdade não seria suficiente para mudar seu rumo subjetivo. A escolha do canalha está sempre dada: ele vai escolher em favor ...

Hino a Deus

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1 No fundo dos vales escuros morrem os famintos. Mas você lhes mostra o pão e os deixa morrer. Mas você reina eterno e invisível Radiante e cruel, sobre o plano infinito. 2 Deixou os jovens morrerem, e os que fruíam a vida Mas os que desejavam morrer, não permitiu... Muitos daqueles que agora apodrecem Acreditavam em você, e morreram confiantes. 3 Deixou os pobres pobres, ano após ano Porque o desejo deles era mais belo que o seu céu Infelizmente morreram antes que chegasse com a luz Morreram bem-aventurados, no entanto - e apodreceram                 imediatamente. 4 Muitos dizem que você não existe e que é melhor assim. Mas como pode não existir o que pode assim enganar? Se tantos vivem de você, e de outro modo não poderiam morrer Diga-me, que importância pode ter então que você não exista? Bertolt Brecht (Poemas 1913-1956)

Não me conformo

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Hoje, mexendo nos meus livros, encontrei um poema da poetisa americana Edna St. Vincent Millay.  Impossível esquece-lo... Carregado de magia flerta com a minha tristeza e coroa de majestade a minha saudade. Tudo fica meio paradoxal: sinto saudades de quem está comigo; das pessoas dos retratos, das memórias... Sinto saudades de quem já foi mas permanece. É o que afoga nosso coração em lágrimas, e faz com que a perda da vida daqueles que morrem se torne a morte daqueles que ficam vivos. ( Agostinho - Confissões) Sinto a necessidade de compartilhar o poema da Edna, e que cada um medite com sua própria experiência de luto. Não me resigno quando depositam corações amorosos na terra dura. É assim, assim será para sempre: entram na escuridão os sábios e os encantadores. Coroados de lírios e louros, lá se vão: mas eu não me conformo. Na treva da tumba lá se vão, com seu olhar sincero, o riso, o amor; vão docemente os belos, os ternos, os bondosos; vão-...

Lutos e Rituais

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Já faz algum tempo que abandonei o cristianismo como prática religiosa . Tal abandono deve-se em parte pelo contato com as correntes filosóficas (especialmente o existencialismo); em parte, pelo desencanto com a religião propriamente dita; pelo esvaziamento de significados existenciais ; pelo desgaste que o conceito "Deus" sofreu ao longo dos séculos. Em fim, por uma vontade de ser liberto exatamente por aquela que promete liberdade, mas aprisiona: a "verdade". Não acredito que verdade alguma liberte alguém, pelo contrário: a verdade aprisiona aquele que nela crê. Isso não quer dizer que eu seja um ateu militante, mas um agnóstico em paz. Penso que é absolutamente possível sermos admiradores do Cristo sem contudo toma-lo como Deus.  Deus? Quem é Deus se não um Ser abstrato que para mim não faz o mínimo sentido. Karen Armstrong parece ter tido a mesma experiência que tive quando escreveu: Na verdade, o inferno parecia uma realidade mais poderosa que...