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ÍCONES DA DECEPÇÃO

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"Se loucura... Se é verdade...?" Castro Alves Um ícone em liguagem teológica significa um símbolo que aponta para algo além dele mesmo. O ícone, portanto, é um símbolo idealizado ( fenômeno ) mas não a coisa em si ( numenos ). Guardadas as devidas proporções, ao menos dois intelectuais se posicionavam em meu horizonte teórico, como ícones perfeitos. O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos e o filósofo brasileiro e até então ministro da pasta de Direitos Humanos Silvio Almeida. Ambos foram para mim ícones da intelectualidade e até motivo de orgulho. Boaventura chegou a escrever um livro em parceria com a ilustre Marilena Chauí; Silvio Almeida ficou mais conhecido com a elaboração do conceito já desgastado de "racismo estrutural". Negro, diretor e presidente do Instituto Luiz Gama, Almeida era o símbolo da resistência negra; a passagem da invisibilidade para a visibilidade. Era o nosso Franz Fanon. O horizonte foi borrado. Ícone era na verdade ídolo, ou seja...

HUMANA, DEMASIADO HUMANA

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Quando iniciei minhas leituras de Nietzsche (em meados de 2002), percebi que uma figura feminina teve relação direta com o filósofo alemão: Louise Andreas-Salomé, (Lou). A vejo como o alter ego às avessas do próprio Nietzsche.  Anos depois, ao ler biografias de Nietzsche, descobri um pouco mais dessa magnífica mulher. Por fim, encontrei este livro dedicado a ela HUMANA, DEMASIADO HUMANA. Assim está na "orelha": "[...] Lou Andreas-Salomé sedutora mulher e intelectual sedutora, que viveu na passagem do século XIX para o século XX. Sua vida cercou-se de uma constelação de grandes nomes da cultura ocidental. Despertou paixão em Nietzsche, com quem dialogava de igual para igual, foi amante do inefável poeta Rainer Maria Rilke, foi amiga e colaboradora de Freud, conviveu com Wagner e sua mulher Cosima, que por sua vez era filha de Lizst, frequentava a casa de Tolstói e, sobretudo, entregou-se a uma vida amorosa fora dos padrões convencionais e deixou uma consistente obra de ro...

INSTAGRAM THERAPY

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  INSTAGRAM THERAPY Quando o The New York Times definiu, em um artigo de 2019, que “Instagram Therapist Are the New Instagram Poets”, levantou-se uma questão importante: Ok, uma simples postagem pode trazer bons insights psicológicos, mas será que também não pode servir como um substituto bastante precário para uma boa sessão de terapia? A revista Psychology Today listou alguns pontos de cuidado para essa tendência que tomou conta não só de perfis de profissionais de saúde mental, mas também de influenciadores e  marcas que adoram a estratégia editorial de psicologizar a sua base de seguidores. Segundo o artigo, os principais riscos identificados neste tipo de conteúdo são: 1) Superficialidade; 2) Generalização e; 3) um caminho alienante de mão única. Ou seja, é um conteúdo supostamente terapêutico que pode, inclusive, gerar gatilhos em alguém que não está preparado para enfrentá-lo sem um acompanhamento adequado. Além de tudo, a “terapia de graça no feed” costuma fazer  ...

SERÁ ISTO VERDADE OU MERA FANTASIA VÃ?

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  "SERÁ ISTO VERDADE OU MERA FANTASIA VÃ?" Eurípides, Ion (410 a.C.) Gostaria muito de crer que, ao morrer, voltarei a vida. Que parte de mim há de prosseguir: pensando, sentindo, lembrando. Mas, por mais que queira crer, e apesar das velhas tradições que nos garantem que existe um além... não conheço nada que sugira que isto seja mais que ilusão ou desejo. Quero envelhecer junto com minha esposa, Annie, a quem amo muito. Quero ver meus filhos mais novos crescerem e quero participar do desenvolvimento de seu caráter e intelecto. Quero conhecer os netos ainda não concebidos.  Há problemas científicos cujas soluções desejo testemunhar - como a exploração de muitos dos mundos em nosso sistema solar e a busca de vida em outros lugares. Quero ver como vão se desenvolver tendências importantes na história humana, tanto promissoras como preocupantes: por exemplo, os perigos e a promessa de nossa tecnologia; a emancipação das mulheres; a crescente predominância política, econômica e ...

LARANJA MECÂNICA E A GENIALIDADE DE STANLEY KUBRICK

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 LARANJA MECÂNICA E A GENIALIDADE DE STANLEY KUBRICK* Quando o assunto é violência, particularmente a delinquência juvenil, o clássico Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) lançado em 1971 e dirigido por Stanley Kubrick (1928-1999), nos vem à mente.  Baseado no livro homônimo de Anthony Burgess a história mostra o protagonista, Alex, narrando sua própria vida, começando pelos atos bárbaros que cometia com sua gangue sem outro propósito que não a violência em si. Ele acaba preso e condenado à prisão por quatorze anos. É uma época de grandes avanços, no entanto, surge a promessa de um tratamento revolucionário, que superará em definitivo as “teorias penológicas”, como diz o ministro do Interior, defensor de que os presos sejam tratados “de uma forma puramente curativa”. Em quinze dias, Alex está solto, após passar por sessões de condicionamento aversivo tão intenso que desenvolve náuseas insuportáveis diante de atos violentos. Aos protestos do capelão do presídio, que brada cont...

CRETINOS DIGITAIS

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A LITERATURA EMPÍRICA DE DESMURGET É O MOTIVO PELO QUAL REDUZI DRASTICAMENTE MINHA VIDA ON-LINE; TAMBÉM É O MOTIVO PELO QUAL MINHA FILHA DE 12 ANOS AINDA NÃO TEM CELULAR. O livro A fábrica de cretinos digitais: Os perigos das telas para nossas criança s, escrito por Michel Desmurget e publicado no Brasil em 2021, convida o leitor a uma ampla reflexão sobe os impactos do uso das telas digitais no desenvolvimento infantil. Desmurget escreve a obra num momento em que as atuais gerações dedicam um grande tempo de suas vidas para interagir com smartphones, tablets, computadores, redes sociais e televisão. É um livro que instiga a pensarmos sobre a saúde física, mental e intelectual de crianças, jovens e adultos e nos provoca a aprendermos a conviver e nos relacionarmos de uma maneira saudável com as telas. Existe vida real fora de Facebook, Instagram e demais redes. Jamais vou trocar horas de leitura prazerosa, de ouvir música ou de estar na companhia de pessoas que significam muito para mi...

CRISTOFASCISMO

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“Somos cristãos como os judeus” Acredito que não seja necessário contextualizar a frase epígrafe deste texto. Confio  na capacidade cognitiva de quem lê para fazer a correlação necessária. O termo cristofascismo não é um neologismo atual como muitos podem pensar. Para ser mais exato, remonta a 1970 tendo sido cunhado pela teóloga alemã Dorothee Sölle; basicamente é a combinação (paradoxal) entre cristianismo e fascismo.  Se remontarmos à época de Lutero, o grande reformador, e lermos o que ele disse acerca dos judeus, talvez esclareça um pouco a relação absurda da frase “Somos cristãos como os judeus”. Martinho Lutero era um extremado anti-semita. Lutero chamava os judeus de “venenosos”, “vermes repugnantes” e “gentalha repugnante”. Em 1543, próximo à morte, escreveu três panfletos contra os judeus. Reproduzo um trecho a seguir: Em primeiro lugar, incendeiem suas sinagogas ou escolas, enterrem e cubram com lama tudo o que não pegar fogo, de forma que nenhum homem jamais volte ...