INSTAGRAM THERAPY
INSTAGRAM THERAPY
Quando o The New York Times definiu, em um artigo de 2019, que “Instagram Therapist Are the New Instagram Poets”, levantou-se uma questão importante: Ok, uma simples postagem pode trazer bons insights psicológicos, mas será que também não pode servir como um substituto bastante precário para uma boa sessão de terapia?
A revista Psychology Today listou alguns pontos de cuidado para essa tendência que tomou conta não só de perfis de profissionais de saúde mental, mas também de influenciadores e marcas que adoram a estratégia editorial de psicologizar a sua base de seguidores.
Segundo o artigo, os principais riscos identificados neste tipo de conteúdo são: 1) Superficialidade; 2) Generalização e; 3) um caminho alienante de mão única. Ou seja, é um conteúdo supostamente terapêutico que pode, inclusive, gerar gatilhos em alguém que não está preparado para enfrentá-lo sem um acompanhamento adequado.
Além de tudo, a “terapia de graça no feed” costuma fazer com que a gente fique ainda mais tempo on-line, ironicamente lendo postagens que afirmam que devemos ficar menos tempo conectados para termos saúde mental mais equilibrada.
[...] É a consequência de uma cultura que trocou os códigos de estresse por saúde mental e de autoajuda por autocuidado.
Os resultados são muitos e devem ser analisados e consumidos com alguma precaução. Celebridades se tornam gurus e coaches de vida. Conceitos teóricos se misturam organicamente com conselhos pessoais. Citações existenciais, estilizadas em mantras com cara de imã de geladeira, são reproduzidas em série. Usuários espelham-se em sintomas psíquicos que encontram on-line como forma de definir identidades. Discursos motivacionais se passam por tratamentos psicológicos.
[...] Quantos desses conteúdos acabam fazendo recomendações diretas ou indiretas do que devemos fazer, sem qualquer escuta ou entendimento de casos específicos e da nossa singularidade?
[´…] corremos o risco de construir e habitar bolhas que apenas reafirmam o que queremos ouvir no lugar de nos havermos com reflexões não tão simples quanto apertar ícones de curtir, salvar ou compartilhar. No lugar de questionar e tratar sofrimentos, é possível que estejamos apenas exibindo os nossos sintomas, compartilhando e repostando.
Fonte: LIEDKE, Lucas. Entre sessões - psicanálise para além do divã. São Paulo: Planeta do Brasil/ Paidós, 2023.
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