segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Quem sou eu?



Eu não sou o que sou


É isso que eu sou: um condenado a existência. Lançado num mundo  contingente e incontrolável...

 Vou vivendo. Escravo do tempo e dos momentos contados. Os movimentos da terra ditam minha vida. 

A contagem dos anos só me angustiaram e, de angústia em angústia a vida acontece. Como não se angustiar se a ampulheta já cumpriu sua função? E eu? Quem sou eu? E Deus? Quem é Deus? Eu pensei que  o conhecia. Alguém o pintou no meu quadro. ¨Criamos deus à nossa imagem conforme a nossa semelhança¨ e a bíblia religiosa prossegue. Criaram... Venderam-me um deus vingativo. Um deus que só vive irado. Não sabe o que é o perdão pois o castigo lhe pertence... É um deus egoísta assim como somos. Que deus é esse? Esse deus me escravizou. Criou em mim uma paranoia. Depois que o conheci jamais tive paz comigo mesmo. Esse deus me angustiou... Fez me odiar a vida e amar a morte. Fez de mim um santo perfeito aos meus olhos... Fez me enxergar detalhadamente os erros alheios e a julgar com meus juízos de valores... Me fez menos humano do que eu era... Me fez prisioneiro de si próprio. É isso que eu sou: um condenado a existência. Um prisioneiro à adoração idolátrica. Não somos adoradores por natureza; somos idólatras por natureza. Adoramos nossa própria imagem refletida no rosto do nosso deus criado. ¨O meu deus tem as minhas características. É tão belo quanto eu. Oh, como o adoro.¨ dizem os religiosos. Não os chamo de tolos. Tolo sou eu, condenado a existência. Prisioneiro do tempo e do momento de tempo que eu mesmo criei. Criei meus demônios na alma, meus receios na cabeça, meu medo do inferno solitário; criei meus anjos no espírito, minha própria sabedoria, minhas virtudes e o meu Céu perfeito. Tolo sou eu criador de mundos inexistentes (ou existentes). Tolo sou eu que não aceita um inferno literal nem um Céu perfeito. Sou um mero existente sem escolha. Não pedi minha vida. Tolo sou eu criador de mim... Mascarado por natureza. Habitado por uma legião de pessoas. Quebro correntes, mas não me liberto. Firo-me com minhas próprias mãos. Não consigo suportar o que já fui; o que já fui é o que é. Ainda sou parte de meu passado. O tempo é o carcereiro que não concerta nada. Ele fica na porta da cela gritando nos meus ouvidos:  ¨já estou indo embora, aguarde mais um tempo que logo o libertarei¨. Que mentiroso. Se me libertar dele me liberto de mim mesmo. Se me libertar de mim mesmo, não terei vida. Vida é dependência. Vida é sempre ser preso a algo. Confesso que estou cansado; confesso que estou triste. Uma tristeza que parte da alma. Vivo em graus variados de tristeza. Tristeza pelos momentos felizes que tive e, que escorregaram de minhas mãos. Foi como tentar segurar água...

Erivan


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