domingo, 19 de agosto de 2012

Esse est percipi


Esta frase titular é latim. Seu significado é "ser é ser percebido", do filósofo irlandês George Berkeley (1685-1753). Alguns acham que uma melhor tradução seria esse est aut perciperi aut percipi ("ser é perceber ou ser percebido").

Inicialmente conheci as ideias de Berkeley no livro O mundo de Sofia, do Jostein Gaarder. Em um dos capítulos, Alberto explica a Sofia: "Berkeley dizia que as coisas do mundo são, de fato, da forma como nós as percebemos, mas que não são 'coisas'".(pág 303).

Em outro trecho, Alberto diz:
"'Ser ou não ser' não seria, portanto, a questão central. Importante seria perguntar também o 'quê' somos. Será que somos pessoas de verdade, feitas de carne e osso? Será que nosso mundo consiste em coisas reais, ou será que tudo o que nos cerca não passa de consciência?"(pág 305).

Embora eu não concorde totalmente com Berkeley, confesso que suas ideias são sedutoras e, influenciaram de certo modo, parte de minhas conceituações teológicas acerca de Deus e da realidade.
Vejamos algumas desses reflexões.

Desde quando Deus existe?

Deus "passou a existir" a partir do momento/dia em que Ele decidiu criar o homem.
Podemos dizer que, Deus não "existia" até que eu mesmo existisse, ou tivesse percepção dessa existência. Neste sentido: Deus precisou criar para ele mesmo Ser, pois até então Ele não era ( "Eu sou o que sou" disse Ele a Moisés certa vez). Nisso, minha teoria se aproxima das ideias de Berkeley. Ou seja, sem percepção não existe o ser/coisas.
 Penso que nossa percepção de Deus não o "Cria", mas cria uma linguagem humana para definir o "deus" que percebemos; a isso dar-se o nome de religião.

Rubem Alves certa vez escreveu:
A linguagem é um instrumento de mediação entre o homem e seu mundo. Não contemplamos a realidade face a face. Desde que nascemos, as coisas não vêm a nós em sua nudez, mas sempre vestidas pelos nomes que uma comunidade lhes deu, comunidade que já definiu como é o mundo e que, portanto, sabe o que ele é. Esse conhecimento do mundo está cristalizado na linguagem.
 E citando Lecky, R. Alves prossegue: "O indivíduo vê o mundo do seu próprio ponto de vista, tendo a si mesmo como o centro. O núcleo do sistema, em torno do qual o sistema gira, é como o indivíduo interpreta."
 E ainda, citando Jerpersen: "Os homens cantaram seus sentimentos muito antes de serem capazes de falar os seus pensamentos"

O que quero dizer com essas construções teóricas é que não basta ter a percepção, mas, também, uma linguagem que retrate essa percepção. Sendo que, essa linguagem, como Rubem Alves nos lembra, são ferramentas interpretativas, nunca o real em si. Creio que não dispomos de outros meios - por enquanto - para retratar hermeneuticamente nossa percepção desse real, que na realidade, não sabemos qual é.

Teologicamente falando, Deus existe por meio da nossa percepção (leia-se também experiência) e, essa percepção divina é interpretada por meio da linguagem que dispomos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário