quinta-feira, 23 de junho de 2011

Uma carta para um mendigo




Os olhos daqueles que sofrem, para sempre serão diferentes de todos os outros.
Eu vi os olhos...
Olhos de um sofredor desgraçado. O negro traz na cor da pele o stigma de ser excluído:
“É ladrão”
A cor da pele o denuncia, nasceu pra ser mendigo.
Sua vida não parece humana. Seu olhar sim.
Eu podia ver sua alma em seus olhos.
Que alma bonita!
Será que só eu vejo isso?
Por que tiraram a tua dignidade?
Porque te lançaram na sarjeta negro?
Teus parentes, onde estão?
Tua mãe não lamenta tua sorte?
Tu não eras o orgulho do teu pai?
O Senhor Deus dos desgraçados não passou o olhar sobre ti?
Com o quê te comparam amigo meu?
Com um cão sarnento...
Tua presença incomoda.
Tu me incomodaste
Teu olhar me incomodou.
Teu olhar me disse:
“Estás me vendo! Não vais fazer nada?”
A partir daí tornei-me cúmplice do teu sofrimento.
Antes não tivesse visto.
O que os olhos não vêem, o coração não sente.
Meu coração sentiu.
Meu coração partiu, despedaçou-se.
Uma gorjeta aliviou tua fome.
Mas teu olhar não me aliviou.
Amigo, não sei teu nome, mas de uma forma ou de outra sou responsável por aquilo que vejo.
Dou-te um conselho: Não peças esmolas. Apenas olhe nos olhos daqueles que te olham, fixe o olhar nos olhos deles e não desvie. Olhe esperando, mas não peça (Atos 3.5)
Pode ter certeza amigo.
O coração daqueles que te olharem nos olhos vão sentir por toda a eternidade.

 

*A inspiração dessa carta inflamou-me após eu me deparar com um mendigo negro no bairro da Cidade Dutra.


    Nunca mais esquecerei os olhos dele me pedindo socorro.

    (José Erivan da Silva)

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