sábado, 10 de agosto de 2013

Sobre felicidade

"Haverá o dia em que você não haverá de ser feliz..."  (Trecho da música FELICIDADE do Marcelo Geneci)

Assisti a uma palestra com o psicanalista Dr. Jorge Forbes. Em um primeiro momento me causou um impacto a seguinte frase: "felicidade não é bem que se mereça!" Depois tudo ficou mais claro e, até concordo plenamente com o psicanalista. Pesquisando mais sobre o assunto, encontrei o seguinte artigo escrito pelo próprio Jorge Forbes:

Ninguém merece ser feliz, ponto. Aí está uma frase provocativa. Acaba com as perspectivas daqueles
vendedores de métodos de como alcançar a maior felicidade, que perturbam a vida de todo mundo, tanto mais porque, para serem convincentes, ficam buscando lhe demonstrar como você está mal, semelhante a frentista de posto de gasolina, para quem seu carro está sempre faltando óleo. Mas não conclua rapidamente pensando que então a felicidade não existe. A frase não nega a felicidade, mas, sim, o seu merecimento, ou seja, a idéia de que felicidade seja algo que se encontra ao final de um esforço premeditado. O filósofo e jurista italiano Giorgio Agamben, em um pequeno livro chamado Profanações, se delicia com o tema afirmando: “O que podemos alcançar por nossos méritos e esforços não pode nos tornar realmente felizes. Só a magia pode fazê-lo”. É de levar Kant a se revirar em seu descanso, pois para esse pai do Iluminismo, citado pelo mesmo Agamben, a felicidade é algo destinada aos dignos de merecimento, assim: “O que em ti tende ardorosamente para a felicidade é a inclinação; o que depois submete tal inclinação à condição de que deves primeiro ser digno da felicidade é a tua razão”. De que lado ficaria a Psicanálise, em especial Freud e Lacan? Não duvidaria em responder que do lado de Agamben, mesmo contrariando os moralistas e parecendo coisa de Harry Potter essa ligação de felicidade com magia. Por que magia? Continuando nas Profanações, lemos: “Mas de uma felicidade de que podemos ser dignos, nós (ou a criança em nós) não sabemos o que fazer. É uma desgraça sermos amados por uma mulher porque o merecemos! E como é chata a felicidade que é prêmio ou recompensa por um trabalho bem feito!”. Como entender tamanho ataque ao bom senso, que questiona os princípios elementares da educação infantil? A resposta está no fato de que: “Quem é feliz não pode saber que o é; o sujeito da felicidade não é um sujeito, não tem a forma de uma consciência, mesmo que fosse a melhor”. Dois aspectos são aqui relevantes: primeiro é que felicidade não progride, nem se acumula, pois se assim fosse acabaríamos estourando em sua plenitude. Pensar então que hoje somos mais felizes que nossos antepassados é tão falso quanto o contrário, que ontem é que era bom, como insistem os saudosistas. Segundo, a felicidade se dá no acaso, no encontro, na surpresa, daí dizer que ela foge à consciência, que ela é uma magia. O curioso é que para ser feliz, para um momento feliz, pois são sempre momentos e não essências, há que se suportar a sensação de quebra de identidade que fatalmente ocorre. Razão que explica que para alcançar a felicidade é necessária uma boa dose de ousadia e coragem, e não se medir pela expectativa do que esperam de você. Felicidade é suportar o inesperado; tente.

Eu entendo que que todos estamos a espera da felicidade mas dela não podemos ser merecedores. Nas palavras do próprio Forbes "Só existe isso: felicidade do acaso." Em outras palavras ela simplesmente acontece, e se não acontecer não é uma questão de injustiça. Falando sobre amor, porém aplicável a felicidade, Forbes diz: "Não existe provas de que o amor [felicidade] seja justo." Duas frases que contribuem com essa linha de pensamento seria, a primeira do filósofo John Stuart Mill, "Pergunte-se a si próprio se você é feliz, e você deixa de sê-lo", a segunda do nosso poeta Fernando Pessoa, "Por que é que, para ser feliz, é preciso não sabê-lo?" Penso que estamos condenados ao acaso. Não existe um caminho traçado que nos conduza a felicidade. Não existe uma fórmula mágica que nos traga ou deixe feliz. É bem provável que quando você for/estiver feliz nem se dê conta e quando se der conta, deixará de sê-lo. Não faço aqui apologia a felicidade e sim ao acaso. Uma boa leitura sobre o tema é o livro Felicidade, do Eduardo Giannetti. O primeiro capítulo começa com uma pergunta que se desenrola por todo livro. "Quais as relações entre o processo civilizatório e a felicidade humana?" (pág. 19) A parti dai, quatro personagens (Leila, Otto, Alex e Melo) irão discorrer sobre o ser feliz no mundo civilizado.

Para não falar mais de algo tão complexo, cito a grande Clarice Lispector, e faço das sua palavras as minhas:

"A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas."

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