domingo, 13 de setembro de 2015

O SÉTIMO SELO - o jogo da morte

O SÉTIMO SELO - o jogo da morte
Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve no céu um silêncio durante cerca de meia hora. (Apocalipse 8.1)

O filme do diretor sueco Ingmar Bergman, O sétimo selo, é no mínimo inquietante. Um cavaleiro, Antonius Block, ao retornar de uma cruzada (séc XIII) encontra sua terra totalmente devastada pela peste negra. Não bastasse isso, a religião (católica) demoniza as mulheres. Acusando-as de bruxaria são queimadas no fogo. O cenário é caótico e apocaliptico.

A morte, a peste negra, o diabo dentre outros, são os grandes medos da Idade Média. O cenário elenca todos esses elementos e uma morbidez angustiante perpassa por praticamente todas as personagens. A morte é personificada e se apresenta a Antonius Block, este, por sua vez, tenta ludibriar a morte em um jogo de xadrez.

Em uma das cenas, o cavaleiro vai até uma igreja e se confessa ao padre sem saber que este é a própria morte disfaçada. Me chama atenção o diálogo que se segue:


Cavaleiro
"Quero confessar com cinceridade, mas meu coração está vazio. O vazio é um espelho que reflete no meu rosto. Vejo minha própria imagem e sinto repugnância e medo. Pela indiferença ao próximo, fui rejeitado por ele [Deus]. Vivo num mundo assombrado, fechado em minhas fantazias."
Padre
"Agora quer morrer?"
Cavaleiro
"Sim, eu quero."
Padre
"E pelo que espera?"
Cavaleiro
"Pelo conhecimento."

"É tão inconcebível tentar compreender Deus? Por que ele se esconde em promessas e milagres que não vemos? Como podemos ter fé se não temos fé em nós mesmos? O que acontecerá com aqueles que não querem ter fé ou não têm? Por que não posso tirá-lo de dentro de mim? Por que ele vive em mim de uma forma humilhante apesar de amaldiçoa-lo e tentar tirá-lo do meu coração? Por que, apesar de ele ser uma falsa realidade eu não consigo ficar livre? (...) Quero conhecimento, não fé... Quero que Deus estenda as mãos para mim, que mostre seu rosto, que fale comigo."
Padre
"Mas ele fica em silêncio."
Cavaleiro
"Eu o chamo no escuro mas parece que ninguém me ouve."
Padre
"Talvez não haja ninguém."
Cavaleiro
"A vida é um horror. Ninguém consegue conviver com a morte e na ignorância de tudo."
Padre
"As pessoas quase nunca pensam na morte."
Cavaleiro
"Mas um dia na vida terão de olhar para a escuridão. (...) Temos de imaginar como é o medo e chamar esta imagem de Deus."
Percebemos claramente como a fala da personagem é aforismática. Nos lembra até os escritos de Nietzsche. Em uma cena, o cavaleiro conversa com uma jovem acusada de bruxaria:


"Está me ouvindo? Dizem que esteve com o diabo."

"Por que pergunta?"

"Tenho motivo pessoal. Quero encontrá-lo."

"Por quê?"

"Quero perguntar a ele sobre Deus. Ele deve conhecê-lo mais do que qualquer um."
Não é totalmente incoerente procurar por Deus atravez do diabo. Nietzsche no livro ALÉM DO BEM E DO MAL, no aforismo 129, disse:

"O diabo tem as mais amplas perspectivas com relação a Deus, por isso se mantêm tão distante dele. - O diabo, isto é, o mais amigo do conhecimento."

A analogia que percebo é que tal como um jogo assim é a vida. Morrem peões, rainhas, cavalos, bispos... Fazemos de tudo para prolongar a vida, mesmo sabendo que nesse jogo, a morte será sempre vencedora. É assim que termina o filme, Antonius Block juntamente com aqueles que ele promete protejer, são arrastados pela morte. Todos de mãos dadas descem ao reino da escuridão.
 
 
 

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