sábado, 26 de março de 2011

O conto da alma só




 Existia uma alma Tão só, tão alma.
Vagava pela escuridão sem a mínima luz.
Não cumpria penitência. Não era penada. Estava privada da presença de sua gêmea.
Tão só, tão alma
Que o medo amplificava, o frio aumentava, as trevas lhe pareciam sólidas.
A alma caminhava sem rumo.
Ora dava voltas em torno de si própria.
Tudo que ela tinha era a existência e nada mais.
Não cumpria penitência. Não era penada. Estava privada da presença de sua amada.
Tão alma, tão só.
Não esperava dó. De quem se não havia ninguém?
O vento gélido lhe trespassava. A fina chuva a molhava. Não havia como descansar.
Seu gemido se tornara num grito que só ela podia escutar. Quem mais ouviria?
Sem se deixar flutuar, coitada foi desabar ali mesmo onde estava.
A essência dos sentimentos fragmentaram-se pelo chão de terra preta.
A alma só
Era agora despedaçada.
Tão alma... Tão só
Quem terá dó se não há mais ninguém?
Em meio ao nada ela foi vencida pela solidão e cansaço da peregrinação.
Deixou-se adormecer...
E sonhou
Sonhou que encontrava aquela que tanto procurava. Um novo gênesis aconteceu.
Deus passou a existir e houve luz. Criou um jardim repleto de verde, repleto de vida.
Não havia serpente tal como no conto. Era o real encontro com aquela que tanto amava.
A alma só não estava mais só.
passou de alma a corpo de carne, osso e desejo. Podia sentir o calor e o beijo de sua amada que também não era mais alma, e sim um corpo como o seu. Fizeram algo que nunca tinham feito antes. Meio sem jeito, fizeram amor
A alma com corpo tinha coração que acelerava seus batimentos. Tinha pele, que ao mínimo toque se arrepiava. Ambas chegaram num clímax de volúpia ardente... Quente...Amoroso.
A alma estava feliz.
Queria eternizar aquele momento.
Jamais queria sair dali.
Jamais queria perder a vida e voltar a só existir.
Jamais queria perder seu corpo e voltar a ser fumaça.
Jamais queria perder sua amada, a maior maravilha que já vira ou sentira.
Aquela que lhe dava o alimento: Amor.
Jamais queria... Jamais queria...
               e viu que era bom...
               ossos dos meus ossos
               carne da minha carne
               não é bom estar só...
Jamais queria...
A alma desperta com este sonho impregnado em si. Ela podia sonhar, mas não mudar a realidade. Estava só novamente. Despedaçada, jogada na terra preta, lançada na noite eterna, e escura, e molhada, e fria,e alma, e existência, e só...
Tão só, tão alma.
Tudo não passara de um sonho. Nada acontecera realmente. Sua busca não teve um ponto final.
Tão alma, tão só.
Quem terá dó se não há ninguém?
Há! Mas ela descobriu que além de existir podia sonhar, e no sonho encontrava quem tanto queria. No sonho se encontrava.
No sonho realizava seu sonho.
Estava só na realidade.
no sonho estava acompanhada de sua outra alma. De sua amada. Não podia mudar essa realidade, mas podia sonhar.
A alma continuava só
Tão só
Tão alma
Tão sonhadora
Que não queria acordar mais...
Nunca mais.
                                                                
                                                                    Erivan

Nenhum comentário:

Postar um comentário