segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Será que a vida tem sentido?

Será que a vida tem sentido? Primeiro uma pergunta feita à pergunta: Qual é o sentido de "sentido"? Ou, o que queremos perguntar quando queremos saber o "sentido de algo"? "Sentido" aqui significa referir alguma "coisa" a um "conhecedor", de sorte que o propósito do objeto seja conhecido pelo conhecedor. Ou, dito de outra forma, "sentido" é a referência de um "objeto" a um "sujeito" de uma maneira que o sujeito perceba a razão e o propósito do objeto (um "sujeito" é alguém como capacidade de conhecer, e um "objeto" é alguma coisa que é conhecida). Por exemplo, se eu, um "sujeito", conheço um computador de maneira que entenda o seu propósito, estou relacionando-o a mim mesmo de forma que percebo o seu "sentido". Para um homem primitivo de uma tribo, por outro lado, um computador seria "sem sentido".

 Existem apenas duas respostas últimas à pergunta do início: Será que a vida tem sentido? A penúltima: "Eu não sei", ainda que seja a única resposta que alguns humanos chegam a dar em toda sua vida, basicamente não satisfaz. Dado o desejo estrutural dos humanos de sempre saber a resposta a toda pergunta, tal resposta que não resolve, sempre será levada a uma solução. Muitos indivíduos humanos podem nunca chegar a uma solução, mas outros de mesma estrutura mental continuarão sem desistir lutando por uma solução.

 Existem duas possíveis respostas últimas à pergunta. Uma é: Não. A vida humana  não tem sentido e é absurda. O problema de uma resposta desta natureza é que é fundamentalmente inaceitável para nossa natureza, que tem em seu cerne a necessidade de saber - sem limites. Dada a faculdade humana de conhecer abstratamente, ou seja, de uma maneira que não seja limitada a nenhuma coisa particular, o objeto de nosso desejo de conhecer está aberto ao infinito. Ora, dizer que nossa vida inteira não tem sentido simplesmente significa que nós somos incapazes de referir a realidade que experimentamos a nós próprios de forma que vejamos o seu propósito. Esse caminho seguido persistentemente leva inevitavelmente a "mal-estar" (Doença para a morte, Soren Kierkegaard), "násea" (Jean-Paul Sartre), "loucura" (Friedrich Nietzsche), pois tal modo de pensar é "loucura", isto é,  seguir a vereda da irracionalidade - a própria definição da loucura, não-sanidade. Mesmo os resolutos filósofos do pensamento existencialista que falaram da absurdidade da vida, no fim urgiram que os próprios humanos deem sentido à vida, afirmando que tal sentido não pode vir de fora, mas somente de dentro. Não obstante, no fim, também eles se afastaram de uma vida completamente sem sentido, inclinando-se ao bravo forjar do sentido dado por cada um - de outra forma, dizem eles, para além da ponta está o abismo da Nausée de Sartre, que se deve evitar a todo custo.

 A outra única resposta à pergunta se avida tem ou não sentido é: sim. A vida tem sentido, ou muitos sentidos. Isso implica que a realidade enquanto experimentada pode ser referida ao conhecedor. Implica de mais a mais que o relacionamento é tal que indica certa "direção" ao movimento, à mudança, que ocorre no saber, viver e agir humanos com conhecimento (além da natureza animal física dos humanos, esses três elementos são essencialmente o que torna homens e mulheres humanos). É certo falar de uma direção, de um telos, para a experiência humana, pois de outra forma dizemos que nossa atividade, nossa experiência são "sem meta" e "sem propósito". Vida implica experiência; experiência implica mudança; mudança implica movimento. Movimento pode ser "direcionado" ou "não direcionado", como ir para trás e para a frente ou para cima e para baixo. Mas no último caso dizemos que tal movimento "sem sentido" já foi rejeitado ao se dizer finalmente "não" à resposta que afirma que a vida não tem sentido. Portanto, afirmar que a vida tem sentido é implicar que ela tem certa direção.

Qual é, então o "sentido" da vida, em que "direção" ela está indo? Cada indivíduo humano deve buscar, para si, uma resposta a essa pergunta.


Fonte: O sentido da vida- no limiar do terceiro milênio
Leonard Swidler

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