quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

"Tendes que existir"*

É preciso compreender que nunca existirá uma filosofia justa no sentido de um sistema absolutamente perfeito, uma filosofia capaz de responder a todos os interrogantes e de decifrar todos os mistérios da existência humana. Por conseguinte, nós tratamos de saber simplesmente que a filosofia nos oferece na atualidade as perspectivas e as concepções mais adequadas para compreender a existência humana. Neste aspecto, creio que podemos aprender algo da filosofia existencialista, porque a existência humana constitui o primeiro objeto que suscita a atenção desta escola filosófica.

 Pouco poderíamos aprender dela se a filosofia existencial, como muitos supõe, pretendesse nos oferecer um modelo ideal de existência humana. O conceito de "autenticidade" (Eingentlichkeit) não nos apresenta tal modelo. A filosofia existencialista não me disse: "Tens que existir de tal ou qual maneira", senão que se limita a dizer-me: "Tendes que existir", ou, posto que essa exigência é, quiçá, excessivamente ampla, me mostra simplesmente o que significa existir. A filosofia existencialista trata de nos mostrar o que significa existir operando uma distinção entre o ser do homem como "existência" e o ser de todos os seres do mundo que não são "existentes" senão unicamente "subsistentes" (vorhanden). (Este uso técnico da palavra "existencial" se remonta a Kierkegaard.) Só os homens podem ter uma existência, porque só estes são seres históricos, quer dizer, porque cada homem tem sua própria história. Seu presente surge sempre de seu passado e desemboca em seu futuro. O homem cumpre sua existência se é consciente de que cada "agora" é o elemento de uma decisão livre: Que elementos de seu passado conservam ainda sua validez? Que responsabilidade lhe diz respeito frente a seu futuro, posto que ninguém pode ocupar o lugar de outro? E ninguém pode ocupar o lugar de outro, porque cada homem deve morrer sua própria morte. Cada homem cumpre sua existência em sua solidão.


*Este título é uma sugestão minha

Fonte: Rudolf Bultmann - Jesus Cristo e Mitologia

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