quinta-feira, 21 de abril de 2011

Páscoa e última ceia

Basicamente páscoa é uma festa judáica instituída por Deus para Israel, na época do Êxodo, para celebrar a noite em que o Senhor Jeová poupou todos os recém nascidos primogênitos dos israelitas e matou todos os primogênitos egípcios, segundo a crença israelita, (Êx 12.1-30,43-49).
 Foi a páscoa judáica que Cristo celebrou com os seus discípulos.

Séculos se passaram desde aquela noite que Jesus se sentou no cenáculo e compartilhou a última e simples refeição com seus discípulos. Era simples, mas extremamente importante. Durante esses séculos, a refeição tem tomado um grande significado. De maneira infeliz, tem caído nas armadilhas da religião os excessos de rituais complicados e distinções denominacionais. Ao fazer assim, acredito, tem se perdido a profunda simplicidade que cercava a mesa onde Jesus e seus homens se reuniram para a ceia naquela noite final.

 Em primeiro lugar, vamos considerar por que eles estavam reunidos.

      Estava próxima a festa dos pães asmos, chamada Páscoa. Preocupavam-se os principais sacerdotes e os escribas em como tirar a vida a Jesus; porque temiam o povo. Chegou o dia da festa dos pães asmos, em que importava comemorar a páscoa. Jesus, pois, enviou Pedro e João, dizendo: Ide preparar-nos a páscoa para que a comamos. (Lucas 22.1,2,7,8).

 A páscoa pode ser considerada a celebração do Dia de Ação de graças dos judeus. Não é um dia de ação de graças com perus, enfeites e peregrinações, mas um tempo de lembrar de alguma coisa muito mais significativa. O apóstolo Paulo nos mostra na Primeira carta aos corintios o significado memorial da ceia do Senhor: ¨ Fazei isto, em memória de mim...¨ O comentarista Anthony Palma diz: ¨Ao participarem da ceia do Senhor, os crentes devem recordar o significado de sua morte (de Jesus), e serem edificados por fazê-lo. Mas note que Jesus disse em memória de mim, não 'em memória de minha morte'. Nos parece que a comemoração da páscoa, está mais ligada a vida de Cristo, vida esta exemplar, que sua morte. Tanto é, que mais adiante Paulo escreve ¨ Anunciais a morte do Senhor até que Ele venha¨ (1 Co 11.26). Ora, como pois o Senhor poderia vir se estivesse morto? Fica claro que é a ressurreição - vida - é o que se comemora na ceia do Senhor.

 Quando os hebreus estavam no Egito, Deus chamou Moisés para tirá-los da escravidão e levá-los para a Terra Prometida. Na noite do grande êxodo, Deus disse ao seu servo: ¨Moisés, dê essas instruções aos hebreus: diga a cada familia para escolher um cordeiro perfeito, um que seja puro, sem as cicatrizes da imperfeição. Eles devem pegar o cordeiro imaculado, matá-lo da maneira que especifiquei, e derramar o sangue em uma panela. Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas. Durante a noite, Moisés, o anjo do Senhor visitará o Egito. Toda casa que tiver sangue na porta, ele passará sobre ela e a deixará sem tocar. Mas se ele não ensontrar o sangue na porta, a morte entrará naquela casa, e o filho mais velho morrerá. Não haverá exceção. Moisés, o destruidor passará sobre eles quando ele vir o sangue. ( Êxodo 12.1-29).

 Isso começa com a mais simples e mais importante de todas as práticas judias. Apropriadamente, é chamada de ¨Páscoa¨. Deus tornou claro que eles deveriam lembrar o período daquela noite em diante; e quando o fizessem, deveriam explicar o significado aos seus filhos. A refeição se tornou a mais importante celebração dos judeus.

 Na sua última noite com os discípulos, Jesus celebrou a Páscoa, como os devotos judeus tinham feito durante séculos. De maneira apropriada, ele usou aquela refeição como lembrança para levar a atenção deles para a sua morte que se aproximava.

O cardápio pascal

                  E, indo, tudo encontraram como Jesus
                  lhes dissera e prepararam a Páscoa
                  - Lucas 12.13

 Enquanto os judeus celebravam sua páscoa anual de lembrança e agradecimento, os ingredientes necessários daquela festa eram passados de geração em geração, nos ensinos tradicionais das 613 leis da Torá. Isso incluia o sacrifício e preparação do ¨cordeiro pascal¨ ( Êx 12.6), a obrigação de comer o cordeiro pascal que é participar na Páscoa judaica (Êx 12.8); a preparação adequada do cordeiro - ele deve ser assado ao fogo ( Êx 12.9); a proibição contra deixar qualquer sobra do cordeiro ( Êx 12. 10); a exigência de comer o matzah (pão asmo, sem fermento) durante a Páscoa (Êx 12.18); o dever de ensinar ao filho a história da libertação do Egito (Êx 13.8). Essas são apenas algumas das instruções específicas da Torá concernentes à Páscoa. Nada muito complicado, mas o que foi colocado era pra ser cumprido rigorosamente.

 A festa da Páscoa estava centralizada em torno de três itens: o cordeiro assado, ervas amargas, e o pão asmo. O cordeiro assado era o principal item. Servia para lembrar-lhes do sacrifício do cordeiro imaculado e o sangue espalhado nas ombreiras e vergais das portas das casas dos fiéis hebreus. As ervas amargas eram uma mistura de alface, chicória, raízes, hortelã e dente-de-leão. Quando o sabor picante daquelas ervas alcançasse a língua, elas ofereciam uma lembrança dos anos difíceis que os ancestrais hebreus tinham passado na escravidão. O pão asmo servia para lembrar-lhes a pressa com que os hebreus tinham de se preparar para deixar o cativeiro com Moisés, seu libertador.

 Mas, nessa noite, Jesus criou uma nova tradição: Ele transformou alimentos familiares em símbolos de coisas desagradáveis.

A refeição

                Quando chegou a hora, Jesus e os seus
                apóstolos reclinaram-se à mesa.
                - Lucas 22.14, NVI

 Corro o risco de perder a simpatia daqueles que apreciam as obras dos grandes artistas, mas preciso dizer uma coisa que alguns não apreciarão, e que é isso: o pintor Leonardo da Vinci fez um grande desserviço ao cristianismo com o quadro A última Ceia ( Na foto acima). Não ao mundo da arte, entenda. Sua pintura é uma obra-prima. Mas histórica e biblicamente, a obra-prima está longe de sua autenticidade.

 Na pintura de da Vinci, Jesus e os seus discípulos estão sentados em um lado da mesa, em cadeiras ¨de frente pra câmera¨. Jesus e os doze, porém, não estavam sentados em cadeiras com alto espaldar, mas estavam à mesa com cerca de 30 polegadas do solo. No primeiro século, quando as pessoas participavam de uma refeição, elas se sentavam no chão em pequenas almofadas, ou tapetes. De fato, se reclinavam para o lado, em volta de uma mesa erguida próximo ao chão, apoiando-se em um dos cotovelos.

 Os convivas também não comiam com talheres, garfos e facas, como fazemos atualmente. O pão servia como utensílio para embeber ou retirar os outros ingredientes, e não era igual ao que costumamos ter, era um pão plano e na páscoa feito intencionalmente sem fermento, era sensível. Eles podiam partir o pão e mergulhá-lo nas ervas amargas, e comê-lo misturado compedaços de cordeiro assado.

 Visualize Jesus e seus discípulos, reclinados em um círculo em volta de uma mesa baixa, olhando um para o outro, e comendo a refeição da Páscoa, como os judeus têm feito durante séculos.

                    E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente
                    comer convosco esta Páscoa, antes do meu
                    sofrimento. Pois vos digo que nunca mais a
                   comerei, até que ela se cumpra no reino de
                   Deus. - Lucas 22.15-16

Os discípulos, naturalmente, não entenderam quão significativa esta reunião seria. Eles estavam somente prestando atenção, comendo a Páscoa e falando entre si.

                   Enquanto comiam, tomou Jesus um pão,e,
                   abençoando-o, o  partiu,  e  o deu     aos
                  discípulos, dizendo: tomai, comei; isto é o
                  meu corpo. A seguir, tomou um cálice    e,
                  tendo dado graças, o  deu aos  discípulos,
                  dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o
                  meu sangue, o sangue  da   nova   aliança
                  derramado  em  favor  de  muitos,   para a
                  remissão de pecados. E digo-vos que, desta
                  hora em  diante, não beberei deste fruto da
                  videira,  até  aquele   dia em  que o hei  de
                  beber, convosco no reino de meu Pai.
                  -Mateus 26.26-29

Eles comeram juntos, celebrando a festa da Páscoa. Tradicionalmente, como dedicados judeus, estavam citando trechos das antigas Escrituras, relembrando os dias quando seus ancestrais foram escravos no Egito e libertados por Deus através de seu servo Moisés. Mas, subitamente, receberam a notícia de que Jesus logo não participaria mais da conversa. Ele parecia melancólico talvez mais triste do que parecia durante todos os anos que passaram juntos.

 Enquanto os discípulos aguardavam com curiosidade, Jesus pegou um pão asmo e o partiu. Então, ele baixou a cabeça e orou. A passagem diz: ¨abençoando-o¨. Não sabemos especificamente o que ele orou.
Eles (os apóstolos) não sabiam que seria a última, mas Jesus sabia, e desejava ajudá-los a entender o que estavam próximos de fazer... e o que lhes aconteceria. Ele disse:

       ¨Tomai, comei; isto é o meu corpo¨.

O quê? O que ele estava falando? Eles devem ter olhado para frente, e um para o outro, confusos. Jesus nunca havia dito isso antes. Repentinamente, ele estava quebrando a tradição, deixando-os completamente atônitos.

 (Os teólogos,também, durante séculos, ficaram confusos com essa afirmação. Alguns ensinam que o pão servido na mesa do Senhor verdadeiramente se torna o corpo de Cristo quando entra na boca do fiel. Outros acreditam que o sacerdote permanece perante o povo, parte o pão que se torna o corpo de Cristo. Outros dizem que ele é representativo um símbolo espiritual do corpo de Cristo. Acredito que a melhor resposta é a mais simples e direta: o pão é o retrato e uma representação de seu corpo que foi dado por nós na cruz.)

 Imagine o silêncio aterrador. Imagine as perguntas que correram através da mente dos discípulos: Ele morreria realmente? Por quê? O que nos aconteceria? E o reino que ele prometeu?

 Teriam sido em vão todos esses anos? O estômago dos discípulos começou a apertar, como se tivesse dado um nó. Os primeiro quatro livros, do Novo Testamento, os Evengelhos, não dão indicação de que uma resposta fosse dada em seguida. Por uma mudança, aqueles 12 homens permaneceram em assustador silêncio.

 Enquanto o gosto do pão estava ainda em suas bocas, Jesus pegou um cálice de vinho. Ao longo dos anos, as pessoas têm imaginado que Jesus usou todo tipo de cálice, de simples vazilhas de barro até taças de prata. Muitos mitos envolvem o cálice que Jesus usou na última ceia, que alguns vêem como um vaso sagrado. Aqueles que promovem esse pensamento acreditam que o vaso tinha algo mais, algo sendo preservado e venerado através dos séculos.

 Jesus tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: ¨Bebei dele todos¨.
 Com essas palavras, Jesus e os discípulos encerram o seu tempo juntos. ¨Vocês nunca celebrarão outra páscoa comigo¨, Jesus estava dizendo ¨mas chegará o dia em que celebraremos juntos no reino de meu Pai, na presença de meu Pai¨.

 Com o cálice vazio, os pensamentos concentraram-se na mesa. A refeição terminou com uma breve canção. Jesus, então, levantou-se, e sem anunciar, deixou a sala.

Eles o seguiram


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