sábado, 12 de novembro de 2011

Religião popular - Religião reflexiva



É importante ter em mente a distinção entre religião  de nível popular e religião de nível reflexivo. Na religião popular, o grau de consciência reflexiva é bastante baixo. É um tanto como a de crianças experimentando alguma coisa. As crianças não estão muito cônscias de que estão experimentando alguma coisa, mas antes tendem a ficar exclusivamente enfocadas na coisa experimentada. Dizemos, então, que as crianças são ingênuas, isto é, sua mentalidade ainda se aproxima da maneira como se apresentava quando nasceram, natus. As crianças tendem a entender as coisas de forma que é antes literal, direta e imediata, isto é, sem nenhum elemento intermediário, sem nenhuma distância mental enter a coisa experimentada e quem a experimenta.

 Esse nível religioso e primitivo, se manifesta hoje nas ditas religiões fundamentalistas, radicais, dogmáticas, extremas. Se auto-idolatram. Justificam essa jactância com a teoria do ¨povo eleito¨. Se são povo eleito, logo, os outros povos são uma criação secundária de Deus. 
 Falando do cristianismo, em particular os ditos pentecostais são o melhor exemplo para entender o nível chamado religião popular (a idéia não é ser pentecostal de coração e mente, mas não ser pentecostal de maneira nenhuma). Ser pentecostal hoje é o mesmo que limitar o pensamento reflexivo; é o mesmo que reduzir tudo à espiritualidade. Demonizar pessoas e ambientes; creêm em maior ou menor grau nos seguintes pontos: 
  1. batalhas espirituais: Vivemos cercados por legiões de demônios e para vencê-los é preciso muita oração e jejum; 
  2. uma sede exacerbada de poder - "Mais oração, mais poder; menos oração, menos poder". Essa fraseologia é corriqueira em cultos pentecostais - Chamam essa explosão emocional (poder) de batismo no/com Espírito Santo. Dividindo os fiéis entre os batizados e os não batizados. O vício por emoção e por poder chega a ser narcotizante. A igreja, espaço físico torna-se pequena. Quando isso ocorre, o monte é o melhor lugar onde as emoções podem ser afloradas sem impedimentos ;
  3. acreditam piamente / literalmente que a prática do dízimo é garantia de prosperidade financeira. Barganhar com o divino é prática comum nas religiões populares (pentecostal/neo-pentecostal); 
  4. acreditam que muito oração é necessário para obter bençãos de Deus. Campanhas infindas fazem parte do rol litúrgico eclesiástico;
  5. acreditam (alguns) em maldição hereditária, superstições, fetiches religiosos reforçam a fé dessas crianças espirituais. O frenesi religioso é comparado à torcidas de futebol organizadas quando seu time esta em campo. Gritaria e euforia é o que não falta. 
 O povo pentecostal é fechado em sua experiência. Conscientes ou não, promovem o anti-intelectualismo com cultos alucinantes e milagres mirabolantes que até Deus duvida. O leitor talvez estranhe o tom crítico com que escrevo, porém, não estou de forma alguma desmerecendo a prática religiosa pentecostal ou a inferiorizando frente as demais. Apenas estou evidenciando um fato onde a prática pentecostal me serve como exemplo.

 Quando falo de religião popular, refiro-me aquela massificada pela mídia; manipuladora da mente e fé dos fiéis. Religião aceita pela emoção; recusada pela razão, pois seu culto não é um ¨sacrifício racional¨. Tal religião é um estágio transitório. O problema é quando ela se torna um fim em si mesma. Jamais passará a um estágio posterior: jamais passará para a vida adulta.

 Mas, a medida que as crianças crescem através da puberdade para a vida adulta, ganham certa distância para com as coisas que aprenderam quando eram pequenas, e para consigo mesmas. Tornam-se cônscias não só das coisas com que se encontram, mas também cada vez mais cônscias do seu experimentar as coisas. Muitas vezes se tornam críticas das coisa que antes aprenderam, às vezes, rejeitando-as, porque julgam talvez que possam não ser literalmente verdadeiras, como antes entenderam que eram.

 Se o processo de maturação continua como deve, os "jovens adultos" passaram gradualmente para a fase de uma "segunda ingenuidade", como a chama Paul Ricoeur. Agora os adultos percebem que muitas vezes as coisas que entenderam quando eram crianças como literalmente verdadeiras, e rejeitaram como não literalmente verdadeiras quando eram jovens adultos, são de fato verdadeiras, muito mais verdadeiras do que pensavam as crianças que as tomaram literalmente, ou os adolescentes que as rejeitaram da mesma forma. Agora elas são vistas pelo que elas são verdadeiramente, e elas são muitas vezes metáforas, símbolos, imagens apontando para uma realidade muito mais profunda do que se pode expressar em linguagem literal.

 A religião reflexiva, por sua vez, é aquela que promove a teologia (não a sistemática e catecista, mais a teologia do humano. Uma teologia humana e real); Teologia como práxis transformadora e construtivista. É teologia sempre reformada pois aceita conceitos como construção histórica-humana e como tal, conceitos são: respostas provisórias ao anseio humano; conceitos são balizas mutáveis. Eles nascem e morrem; se fortalecem ou enfraquecem; isso varia com a necessidade temporal, histórica- cultural. Jamais são absolutos em si mesmos; jamais são verdades transcendentais. "Nem tudo é possível sempre, nem tudo é verdade em todos os tempos, nem tudo é exigido em todo momento".
 Assim, haverá indivíduos, sem se levar em conta a idade, cuja consciência está em nível bastante ingênuo, e indivíduos cuja consciência religiosa está num nível muito reflexivo - e pessoas em toda parte em posição média. Haverá também comunidades inteiras destes diversos tipos: como por exemplo certas igrejas protestantes como, no caso, o pentecostalismo que citamos anteriormente.
Religião é também uma questão de razão. "uma crença sem provas é a base de uma fé cega"    

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